Os (nossos) melhores discos de 2013


2013 prometia o retorno das divas. De Gaga a Beyoncé, passando por Britney Spears e Avril Lavigne. Mas trouxe também surpresas que agitaram as paradas musicais em todo mundo. De Ariana Grande a Lorde. E até daqueles que não tinham crédito algum.

Há quem diga que Beyoncé zerou o ano com seu álbum autointitulado lançado de surpresa numa madrugada deste mês. Outros defendem com unhas e dentes que 2013 foi o ano para Lady Gaga com seu ARTPOP. Dessa vez, resolvemos fazer diferente. Nós, equipe de música do O Que Vi Por Aí, apostamos nos nossos próprios clássicos do ano. Por meio de um top 05, elencamos aqueles discos que ficaram por horas no repeat, que nos marcaram de alguma forma indiscutível, ou que não passam de guilty pleasure.

É importantíssimo ressaltar que essa não é uma lista d'os melhores álbuns do ano. Na verdade, é, sim, mas os NOSSOS melhores álbuns. Por isso, imparcialidade pegou suas malas e partiu pra longe daqui. Enjoy! :)


5º - Night Time, My Time (Sky Ferreira)

(Night Time My Time, Capitol Records, 2013)
Há muito, Sky Ferreira vinha formando e modelando as bases de seu debut álbum para engatar de uma vez por todas a tão palpável estreia oficial e triunfal. A aura melancólica e a lírica sombria da moça se fundiram num pacto sobrenatural e o resultado foi o Night Time, My Time. Movimentado essencialmente pela solidão – que começa a exalar pro ouvinte a partir da capa –, o disco mistura sensações diferentes de torpor, até mesmo em canções com batidas mais agitadas como Boys e I Blame Myself, e o carrega para os ambientes mais sombrios da alma humana.   Se em 24 hours o eu-lírico tenta fugir das amarras de um romance limitado, em Nobody Asked Me, a cantora grita “Nobody asked me if I was ok” e parece confirmar toda a construção e musicalidade proposta pro disco. You’re not the one é o direcionamento para o pop autêntico e evidente para o qual Ferreira também se apontou.

Entre o pop obscuro e os sintetizadores abertos, cada faixa parece estar intimamente ligada ao pop dos anos 80, sem o compromisso de ser esse um simples aspecto estético. Night Time, My Time é uma obra mais-que-coesa em sua totalidade e o primeiro reflexo fixo do propósito inovador a que Ferreira se destinou.


4º - Girl Who Got Away (Dido)

(Girl Who Got Away, RCA Records, 46:07)
Dido é, senão a maior, uma das poucas cantoras que conseguem reunir um turbilhão de sentimentos nas faixas de um disco e, num certo momento, até misturar uma parcela deles e fazer o ouvinte surpreender-se com sua própria postura durante a audição. Toda sua docilidade, força e inspirações estão ordenadas harmonicamente no seu último Girl Who Got Away, um disco em que pop, folk e eletrônica se juntam ao lirismo mais sincero para encabeçar as listas das melhores produções do ano. A moça retorna ao seu passado glorioso com ousadia, mas se desvencilha um pouco do ambiente acústico dos outros trabalhos. “No love without freedom, no love without freedom”, clama Dido na canção que por si só poderia zerar o álbum, se a faixa-título não viesse logo em seguida só para confirmar o triunfo da cantora. End of night e Go Dreaming são dois belos exemplos da audácia da cantora ao passear pelo eletrônico sem deixar-se capotar pelo despenhadeiro do risco que é trabalhar com batidas eletrônicas num álbum que não tem o propósito de ser um disco dançante. Day Before We Went to War fecha o disco com sua harmonia simples e poética que, se juntando à letra, mostra que Dido sabe bem como construir imagens através de suas canções.

Em Girl Who Got Away, Dido foi tudo o que quis e até o que receava em ser. Numa época em que sair de uma zona de conforto pressupõe uma autodestruição, ousar passear por estradas arriscadas e sem perder a essência é mais do que um triunfo. E Dido o fez.


3º - The Blessed Unrest (Sara Bareilles)

(The Blessed Unrest, Epic Records, 50:35)
Todos os adjetivos mais amor da língua portuguesa ainda não seriam capazes de caracterizar o mais recente lançamento de Sara Bareilles. The Blessed Unrest é daqueles discos para se amar na primeira audição e ir elevando o nível conforme as inúmeras repetições, pra no final do dia (?), ser uma doce nostalgia. A moça te faz crer que o álbum será mais animado que Love Song com a energia contagiante de Bravevale até sair dançando no meio da rua, no restaurante, noshopping – para te mostrar que, antes de qualquer coisa, The Blessed Unrest celebra a saudade, os primeiros amores e a doce e melancólica ilusão. Manhattan é uma baladinha sustentada por um piano melódico e a voz doce de Sara, oscilando entre os graves e agudos. Em Little Black Dress, a moça brinca com os saxofones e as batidas constantes que querem arriscar em retomar o som do debut, Little Voice, mas não em sua totalidade. E assim segue o disco, oscilando entre rupturas e retomadas ao passado.

The Blessed Unrest é o retrato de Sara Bareilles experimentando coisas novas, mas seguindo em frente pelas ruas de Manhattan. Ela presenteia os fãs com sua doçura, letras bem trabalhadas e o piano da inocente Sara lá do Careful Confessions e Kaleidoscope Heart, mas não se distancia do que poderia tocar nas rádios. Um disco cíclico, porque não poderia ser outra coisa, e que te faz sair cantarolando meio mundo de seu repertório.

Destaques: Manhattan, 1000 Times, December 

2º - Native (OneRepublic)

(Native, Interscope Records, 46:44)
Pouquíssimos artistas conseguem permanecer fiéis ao seu som característico, enquanto evoluem por três, quatro ou mais anos de carreira. O OneRepublic é uma dessas pouquíssimas bandas que, além de manter-se fiel à sua essência pop-rock, consegue inovar a cada novo trabalho, passeando facilmente por outros estilos. Com o Native não foi diferente, pelo contrário, foi nele que Ryan Tedder e companhia fizeram o que só uma em cada dez bandas consegue fazer: reunir em catorze canções um pouco significativo de cada um dos dois antigos álbuns (Dreaming Out Loud e Waking Up) com maestria. Numa primeira audição, Native pode parecer uma das melhores coisas que você já ouviu do OneRepublic até então, mas quando seus ouvidos se acostumam às batidas pop-rock flertando com o folk (e até com o soul), o disco pode ir ao status de carreira-triunfal-da-banda-resumida-em-um-disco-e-a-melhor-fase-criativa-e-inovadora-de-Ryan-Tedder.

O álbum resgata a sonoridade pop-rock e ainda consegue flertar com o folk e soul e traz um OneRepublic mais pop do que nunca. Counting Stars é um pop bem animadinho e bem conceitual, que abre incrivelmente o disco e já define sua cara. Au Revoir, uma das canções que mais se destaca, conquista por sua abertura com uma belíssima orquestra e pelo clima de mistério na sonoridade embalada por um piano (sem contar os vocais extremamente suaves de Tedder). Outras como Preacher, Something I Need e Life in Color são tesouros que provam que a genialidade de seu vocalista não tem limites. Native é a prova concreta de que quatro anos de hiato não é capaz de abalar as estruturas da boa música. (review escrita originalmente para o nosso parceiro O Anagrama)

Destaques: Au Revoir, Preacher, Something I Need

1º - Too Weird to Live, Too Rare to Die (Panic! at the Disco)

(Too Weird to Live..., Decaydance Records, 32:32)
8 de outubro foi o dia em que o Panic! at the Disco zerou o ano e anulou todas as chances de qualquer álbum ser considerado o melhor do ano. Imparcialidade mandou lembranças calorosas. Too Weird to Live, Too Rare to Die é o tipo estranho e genial, doce e azedo, água e vinho, inocente e selvagem. O misto de extremos construídos genialmente por uma banda que saiu de uma zona para se riscar no fracasso. E foi o contrário. É um disco que acende a ânsia por ouvir cada detalhe, sem saltar uma faixa sequer. Batidas ritmadas, ora ordenadas, ora desesperadas, os vocais inconfundíveis de Brendon Urie, corais harmoniosos, aberturas incomuns sumarizam o disco.

This is Gospel faz jus ao título de primeira faixa para mostrar logo de cara a que veio o Panic! com esse disco. Miss Jackson vem em seguida com suas batidas maciças, corais ressonantes e efeitos que rementem a um cenário sombrio e de destruição. Se Girl That You Love perde o clima de celebração e o ritmo leve e iluminado de Vegas Lights, Nicotine os recupera e completa com todo seu sentimento de transgressão e rebeldia, transformando-na na que pode ser uma das melhores faixas do trabalho. A banda brinca em Girls/Girls/Boys sem quebrar a atmosfera desobediente da anterior, e cria imagens de jovens protagonizando uma bebedeira num fim de madrugada em qualquer lugar do mundo. Far too Young to Die é, sem medo, a melhor canção do disco. Costumo associá-la a um poema cheio de representações, metáforas e antíteses, só que com uma melodia ao fundo. São dela as batidas mais consistentes de todo o tracklist e a palavra-chave principal. Com seus 3:30 minutos que mais parecem 1:30, The End of the Things encerra o trabalho celebrando a efemeridade das coisas.

Um disco rápido cronologicamente e eterno psicologicamente. Uma celebração à efemeridade da vida, mas um alerta à dissipação inconsciente do curto tempo. 


5º - Yours Truly (Ariana Grande)

(Yours Truly, Republic Records, 46:28)
Ariana Grande entre os álbuns de maior destaque de 2013? Isso mesmo! Mesmo não tendo ganhado tanta repercussão nas premiações como “Artista Revelação” (Grammy errou feio), a compilação de músicas presente no Yours Truly merece, sim, seu reconhecimento.

A cantora que começou como atriz em séries infato-juvenis, apresentou esse ano sua faceta na música, e não é que ela se deu muito bem? Com faixas como Right There, Baby I, Better Left Unsaid e o carro-chefe The Way, ela conquistou nossos corações e garantiu um lugar na indústria musical. Comparações à parte com Mariah Carey, a voz e simplicidade que Ariana imprime em seus trabalhos transparece em sua personalidade e a torna aquela carinha meiga e adorável que nos encanta tão facilmente. É um álbum bom e bastante conciso em suas experiências (ingênua sim, boba nunca), atraindo um ritmo pop R&B que pode e deve dominar os charts futuros!


4º - Native (OneRepublic)

(Native, Interscope records, 46:44)
Tem mesmo alguém que saiba escrever e produzir músicas tão bem como Ryan Tedder? O cara é simplesmente um gênio quando se trata de unir uma melodia deliciosa a uma letra contagiante. Por trás de composições tão bem feitas (ele deu um jeito até nos agudos da Christina Aguilera em We Remain), OneRepublic não pode ficar do TOP 5 de álbuns de 2013.

O Native é tão gostoso de ouvir que realmente não tem nenhuma música que acaba te desagradando – mas tem aquelas que a gente tem uma quedinha maior. If I Lose Myself, What You Wanted, Something I Need e Preacher são apenas algumas das faixas que grudam na cabeça com seus refrões I-N-C-R-Í-V-E-I-S! Counting Stars é a grande maravilha do álbum, abusando de uma sistemática de ritmo impressionante, com variação de vocais (não tem como não gostar)! É um repertório para se ouvir, se identificar e sair cantando por aí (seja no chuveiro, na rua, no busão...). E o que dizer na capa? Uma das melhores do ano também.

Destaques: Counting Stars, If I Lose Myself, Something I Need

3º Beyoncé (Beyoncé)

(Beyoncé, Columbia Records, 66:35)
Tivemos pouco tempo para ouvir, mas já dá para amar! A atitude inovadora de Beyoncé em lançar um álbum inédito com 17 clipes do nada roubou a cena da música em 2013, mas de nada adiantaria se o repertório não fosse bom, certo? E não podia ser melhor! Temos aqui Bey de volta com seu ritmo pulsante do R&B em composições que podem até soar simples, mas muito engenhosas.

Beyoncé é tudo que pedimos diante de tantas farofadas que ainda vemos por aí – se bem que em 2013 tivemos uma bela desintoxicação. Tem como não cair de amores com Pretty Hurts? É, sem dúvidas, uma das melhores, mas são tantas boas que fica difícil escolher uma para chamar de sua. As petições vocais ~ fantasmagóricas ~ de Hunted, a viciante Drunk in Love, a deliciosa Blow, a inusitada Mine e a divertida XO. Por fim, sabemos que estamos ouvindo um dos melhores álbuns do ano por ser simplesmente aquilo que ele deve ser, sem exageros ou grandes revoluções. A ralé passa longe daqui!

Destaques: Pretty Hurts, Mine, XO

2º Pure Heroine (Lorde)

(Pure Heroine, Universal Music,  37:08)
Ela pode agradar ou não, precisar de produtos da Jequiti ou não, fazer uma de possuída no palco ou não e criticar, é claro, mas continua sendo uma das maiores descobertas da música em 2013 (menos um ponto para o Grammy em não indicá-la para “Artista Revelação”). Lorde apenas sucumbiu a todas as divas em todos os sentidos com suas músicas.

Pure Heroine está em 2º lugar porque realmente merece! As composições são ótimas e cheias de figuras de linguagem, só para destacar o intelecto de nossa lordezinha. Não somente de Royals ela vive, mas também de Team, Ribs, 400 Lux, Buzzcut Season e da mais que incrível Tennis Court – a música é só sua maior crítica a essa vidinhas falsas e infelizes. Detonando vidas com a primeira frase: “Don't you think that it's boring how people talk?”. Ela alcançou o topo da Billboard, mas suas músicas não foram feitas para agradar charts e sim para mentes que pensam (existem mais coisas entre nossa moral do que sonha nossa ética). Por isso, é um dos melhores repertórios (com 10 músicas), por não se render a mesmice ou a impetuosa desintegração rasa da música. É básico, inteligente e perspicaz com uma pitada de crítica malagueta!

Destaques: Tennis Court, Team, Royals

1º - The 20/20 Experience - The Complete Experience (Justin Timberlake)

(The 20/20 Experience, RCA Records, 70:02)
Dentre tantos retornos, o que mais abalou a continuidade do mundo da música foi, sem dúvidas, Justin Timberlake! Após seis anos afastado dos palcos, JT resolveu nos presentear não só com uma, mas sim com duas compilações de sua última investida na música. Ele trouxe de novo aquele frescor que tanto precisávamos para nossos ouvidos – corrompido pela generalização do dubstep.

The 20/20 Experience é realmente uma grata experiência (não visual como a de Beyoncé, mas do melhor bom gosto auditivo). Com faixas cada vez mais cativantes e um ritmo R&B digno dos anos 70-80, temos a impressão de estarmos viajando para o passado trazendo conosco todo o presente como uma junção do melhor das épocas. O primeiro volume pode ser mesmo a melhor das duas, contudo é impossível negar que uma complementa a outra. Suit & Tie , Tunnel Vision, Mirrors, Let the Groove Get In, Gimme What I Don’t Know (I Want), True Blood, Cabaret e Murder é tudo que nós pedimos e muito mais para ter essa essência, são melodias, ritmos, letras e notas todas entrelaçadas para o bem maior do que uma composição. No final das contas, quem sai ganhando com tudo isso somos nós com a sensação do que a música tem o melhor para oferecer.


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