Review: Dois olhares sobre "O Lado Bom da Vida"
A necessidade mútua refletida em bons diálogos da vida comum em O Lado Bom da Vida
por Amanda Prates
(Twitter - Filmow)
Imagine a
seguinte situação: de repente, você perde tudo, sua (e) esposa (o), seu
emprego, sua sanidade, sua liberdade. O que você faria depois de tudo isso? Pat
Jr. (Bradley Cooper) acha que depois de meses em uma clínica de reabilitação, ele
pode esquecer tudo e se refazer para que sua vida volte ao normal, porém com
uma dose a mais de positividade. Acha que sua mulher, Nikki (Brea Bee), ainda o
ama e o espera renovado. A partir daí, ele segue uma série de regras para se “endireitar”:
lê todos os livros indicados por Nikki no colégio, intensifica os exercícios
físicos e se foca em olhar a vida sempre pelo lado bom (afinal, “Excelsior!”). Mas, quando ele conhece
Tiffany (Jennifer Lawrence), uma viúva solitária e também bipolar, sua vida
muda e ambos buscam ajuda um no outro para voltar à realidade. A necessidade é
mútua, embora não saibam disso. O Lado
Bom da Vida é sobre obsessão, fragilidade, loucura, descontrole, mas principalmente, sobre imprescindibilidade recíproca.
Os diálogos e a
direção são notáveis. David O. Russell, nome por trás do fracasso da comédia
romântica I Heart Huckabees e do
sucesso de O Vencedor, dá espaço para
os atores falarem por si só, e é aí onde ele triunfa. O longa, adaptação do
livro homônimo de Matthew Quick, não se preocupa em como a trama será
interpretada ou com sua razoável originalidade, e sim com as atuações, intensas
e que não decepcionam. Cooper e Lawrence dão base a ótimos diálogos – que soam
muito naturais – entre seus personagens, imprevisíveis e tão bem amarrados
harmonicamente que poucos cineastas podem alcançar sem deixar o filme cair no
caos. Apesar da forte ligação psicológica, há um paralelismo entre esses
personagens. Enquanto Pat Jr. tenta acreditar na esperança e na fidelidade, ele
trava uma batalha para recuperar sua sanidade mental. Tiffany, por outro lado,
não acredita no amor e não sente vergonha de ser a tresloucada sem escrúpulos
que é.
Russell cria uma
ambientação em uma família inserida em problemas financeiros, preconceito,
vício, alienação em esportes, transtornos obsessivos e machismo, tudo no tom
certo, fazendo um retrato da vida simples e comum. Em várias cenas, o caos
impera a partir de uma gritaria histérica dos personagens, relevando o quão
sinceros e reais eles são. Tiffany tem certa dificuldade em entender suas
ações, o efeito que elas têm sobre si ou sobre as pessoas ao seu redor. Danny (Chris Tucker) é uma das brilhantes
surpresas, que até pode passar despercebido aos olhos de quem assiste, mas ele
é o verdadeiro símbolo do positivismo que tanto modela a vida de Pat Jr. Os coadjuvantes dão um show em silêncio e na verborragia: Jacki Weaver,
como o membro com sanidade mais estável da família Solitano e Robert De Niro como
o pai compulsivo e em sua melhor forma desde seus trabalhos com Martin Scorsese.
Outros foram colocados infortunadamente no cast,
como John Ortiz, que parece ter sido o maior erro até então. O ator faz de
Ronnie um ser exagerado que circula sem conexão ao roteiro e aos personagens de
seu núcleo. Porém, são pequenos detalhes que não desmerecem tudo o que foi
criado e atingido pelo filme.
O diretor orquestra todo esse conjunto “elenco+trama”
da melhor maneira possível, prolonga alguma situações, exagera um pouco, mas consegue
perceber quando é hora de colocar os pés no chão novamente. A produção em geral
não é espetacular – mesmo que esse tipo apareça com pouca frequência em Hollywood –
mas a boa química estabelecida entre os protagonistas, por si só, fazem o maior
triunfo do filme: transmitir a mensagem de positivismo e esperança, clichês que
sempre acompanharam e acompanham o homem que, mesmo apanhando todos os dias, é
preciso seguir com as cicatrizes, sem vergonha ou medo. Tudo é memorável e
engraçado ao encontrar humor na depressão e/ou bipolaridade, sem minimizar o
problema ou se forçar em momento algum. Bradley é uma surpresa: ele evita o
estereótipo de personagens com distúrbios mentais e entrega verdade e
naturalidade em sua atuação. Jennifer, que em filmes como Inverno da Alma e JogosVorazes, nos quais ela era uma força da natureza, aqui ela se mostra mais
vulnerável – o que comprova sua versatilidade – e apenas continua dando passos muito largos para se tornar a melhor atriz de sua geração
em Hollywood.
O Lado Bom da Vida é um exemplo raro de comédia
romântica que consegue se desvencilhar dos clichês e dos personagens
previsíveis e inevitáveis do gênero. Como não rir no momento em que Pat se
irrita com o rumo tomado pelo personagem do clássico“Adeus às Armas”, de Ernest Hemingway, e
acorda seus pais no meio da noite para expressar sua frustração? Ou quando Tiffany sente repulsa e "arma um escarcéu" pela atitude de Pat ao (quase) dizer que ambos são tão diferentes e que ela é tão louca quanto ele? São detalhes que tornam o longa tão divergente dessa massa de produções que formam o abismo de trivialidades e vulgaridades que muito se vê por aí. Concorrendo
a oito categorias do Oscar – incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Ator
e Melhor Diretor – o filme prova que é possível fazer uma comédia ao
modo hollywoodiano, sem cair no previsível ou no piegas e contar uma
história verdadeiramente humana, com personagens sinceros que, mesmo quando
exagerados, não parecem irreais.
Bradley Cooper e Jennifer Lawrence fazem o casal bipolar sem
escrúpulos em O Lado Bom da Vida
por Léo Balducci
Muitas pessoas
acabam sendo esmagadas pelas grandes metrópoles e se perdendo diante de tantos
problemas que permeiam sua vida e se esquecem do principal: ser feliz! Viver
não se trata apenas de ter dinheiro ou se ocupar por horas do dia, mas sim
achar um propósito em sua vida e aproveitar todas as oportunidades que possam
surgir sem ter receio das consequências que isso possa causar, registrando
sempre os bons momentos e se apegar naqueles que valem a pena. Os problemas?
Bom, isso todos temos, mas é você quem dá uma dimensão grande ou pequena para
eles, às vezes basta se deixar levar pelo simples suspiro do vento ou sentir o
aroma esplêndido do seu amor.
Em O Lado Bom da Vida exploramos o máximo e
o mínimo, a ingenuidade e a perversão, o correto e o errado, o direto e o
indireto. A narração de David O. Russel dá o sentido à trama que giram e torno
de Pat Solitano (Bradley Cooper), um homem bipolar que acaba de sair da
reabilitação após quase ter assassinado o cara com que sua mulher o traiu, e
acaba conhecendo Tiffany (Jennifer Lawrence), pervertida agressiva que não
consegue aceitar a morte repentina de seu marido. Apesar de Pat preferir não se
envolver com ninguém no momento, já que se ilude constantemente com a
possibilidade de voltar a viver com sua mulher, ele não vê outro modo a não ser
ceder aos pedidos de conversar com Tiffany, onde daí nasce um companheiro
intenso que chega a um concurso de dança.
É impecável o
trabalho desenvolvido por Cooper e Lawrence, que cada vez mais se consagra como
uma das maiores artistas da nova geração, por expressarem com exatidão todos os
sentidos vividos por pessoas que possuem algum problema psicológico e deixa
claro que é possível não se prender a essas doenças, basta só encontrar a si
mesmo e não ter medo de viver. Além disso, outro destaque no longa-metragem
fica por conta de Robert De Niro, que parece finalmente interpretar um papel
que atinja todas as expectativas de sua atuação, fazendo o pai de Pat, que
sofre de transtorno obsessivo-compulsivo e completa o enredo da produção por
parte desse humor peculiar que é demonstrado a cada momento.
Não há como
negar que “O Lado Bom da Vida” é um dos grandes destaques do cinema e merece
esse reconhecimento por validar a essência de cada ser humano e seus
sofrimentos rotineiros passivos e complementares que induzem ao seu próprio
raciocínio da reflexão. É uma comedia-romântica diferente de qualquer uma, tendo
em vista que não se influi de elementos superficiais ou romances excessivos,
apenas mostra duas pessoas psicologicamente afetadas por seu comportamento após
complicações familiares que tendem a desenvolver uma relação, que entre
intrigas e boas apostas de ‘loucura’, conseguem priorizar o que há de melhor
para se fazer: viver com amor! Excelsior!
***** (5/5)
Silver Linings Playbook, EUA, 2013
Direção: David O. Russell
Elenco: Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Robert De Niro
Duração: 2h 2min