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Review: Dois olhares sobre "Argo", vencedor do Oscar 2013

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Ben Affleck e a trama mais que inusitada de seu Argo

por Amanda Prates

Depois de Gone Baby Gone e The Town, muitos acreditavam que Ben Affleck não conseguiria sair de sua zona de conforto e produzir algo que não fosse sobre criminalidade carregada de muita ação. Não esperavam mais ainda que ele pudesse dirigir e protagonizar um filme que fosse capaz de contar uma história real que envolve Estados Unidos e Oriente Médio sem elevar nenhuma das partes, nem emitir os fatos julgados reais, mesclando drama, ação e humor negro. Mas, ele o fez. E com maestria. Argo rendeu a Affleck a estatueta principal do ano e pôs em dúvida o tamanho reconhecimento diante das produções concorrentes (leia-se Indomável Sonhadora e As Aventuras de Pi). A questão é que, dos longas indicados, Argo era o que mais apresentava os elementos que a Academia tanto adora ver e o mais provável a vencer a dura disputa com Lincoln.

Aqui, a trama segue Tony Mendez (Ben Affleck), um agente da CIA especializado em exfiltração, que tem a ideia mais inusitada e dubitável das últimas décadas: retirar 6 membros do corpo diplomático norte-americano da mira de revolucionários do Irã no momento dos movimentos reacionários de 1979, escondidos na casa do cônsul do Canadá em Teerã, por meio de uma falsa produção cinematográfica de Sci-Fi, denominada “Argo”, com a ajuda do maquiador John Chambers (John Goodman) e do produtor Lester Siegel (Alan Arkin), que seria usada como pretensão para que o grupo passasse pela fiscalização iraniana como uma equipe de filmagens. O roteiro ousado de Chris Terrio é baseado em um artigo de Joshuah Bearman, que revelou, depois de anos de total sigilo, detalhes deste momento de tensão entre o Irã e os Estados Unidos.

Um dos grandes méritos de Affleck e companhia é fazer com que o filme não se foque na história do conflito, e sim em toda a tensão que envolveu o resgate do grupo de diplomatas, sem pecar para o lado da prolixidade nem da verborragia dos personagens.  O ufanismo está no roteiro, obviamente (afinal, como se conseguiria bancar um filme deste em Hollywood?), mas a produção soube dosar a trama e tratou logo de não colocar os EUA como o superior acima do bem e do mal. Há “sujeira” nos dois lados e ambos defendem um propósito, sem estabelecer um vilão e um “mocinho” na história, um ponto que muitos cineastas norte-americanos não conseguem triunfar ao contar uma história de cunho sócio-político como esta.

A direção de Ben Affleck se sente segura e faz questão de, ao longo de suas quase duas horas de duração, provar a veracidade do evento, lembrando que, por mais absurda que seja a história, ela de fato aconteceu. O diretor está a todo tempo nos mostrando manchetes de jornais da época e até fotos das seis pessoas resgatadas nos créditos finais. Mais do que a conservação da realidade, o elenco é um ponto louvável à parte. Alan Arkin, como o produtor cineasta Lester Siegel, nos entrega mais um show de representação e credita os momentos cômicos e irônicos que servem como alívio para toda a inquietação que move a trama. Para encarnar o maquiador John Chambers, outra pessoa não poderia ser mais indicada que John Goodman (e ousem duvidar!). O ator, além de ser parecido fisicamente com Chambers, dá ao seu personagem (que de fato existiu) toda irreverência e características de humor negro que dão pontos ao longa. Os atores que compõem os seis diplomatas são peças-chaves do triunfo do filme, mas não tão importantes como os supracitados.

Se para um filme que tinha todos os elementos que o fariam cair na artificialidade e gritaria por personagens caricatos, como a maioria dos que contam fatos reais, Ben Affleck fez em seu Argo o que poucos diretores (que estavam até então desacreditados pela crítica) são capazes de fazer e dá mais acertos do que erros à produção, ao combinar emoção, drama, política internacional e cutucadas sarcásticas à própria indústria cinematográfica (leia-se Hollywood), sem cair no clichê e no ufanismo exacerbado que moveu e ainda move tantos longas-metragem norte-americanos do gênero.

***** (4,5/5)


Ben Affleck traça toda a tensão de refugiados americanos no Irã em Argo

por Léo Balducci

Quem diria que Hollywood um dia conseguiria salvar vidas de verdade?! Pois bem, nada melhor para comprovar isso do que um filme retratando a história autêntica da tensão que ocorreu entre os Estados Unidos e o Irã no final da década de 1970, trazendo uma impecável direção de Ben Aflleck. Argo chega como uma produção patriarca de drama e suspense que procura mesclar uma ideia descartada dos estúdios de cinema com uma operação secreta internacional da CIA.

A trama narra a trajetória do agente especializado em exfiltração Tony Mendez (Ben Affleck) que resolve se inteirar na missão de resgatar 6 americanos refugiados na casa do Embaixador do Canadá após militantes iranianos atacar a soberania do país ao invadir a Embaixada dos Estados Unidos. Utilizando a “melhor ruim ideia” que tiveram, Mendez põe em prática a falsa gravação de um filme no Irã, fazendo uso do pretexto de que os refugiados seriam parte da produção buscando locações. Em meio a passaportes falsamente emitidos e todo o fingimento que o plano exige, nos vemos encurralados juntamente com os personagens em constante perigo e torcendo imensamente para que não haja complicações.

É visível que o longa-metragem também tem como objetivo empregar alguns elementos cômicos e críticos ao papel de Hollywood perante a relevância da operação, induzindo o telespectador a conhecer um pouco mais do que se passa nos bastidores. Além disso, temos que dar muitos méritos a Affleck, que não só comprovou que é um ótimo ator como também sabe dosar precisamente cenas de ação, tensão e emoção, criando âmbitos e sensações que vão além do mero decorrer da trama. No entanto, não há como negar que a fidelidade à pátria está fortemente inserida tanto do lado militar iraniano quanto na urgência americana, exemplificando que cada posição lutou em prol de seu benefício próprio. Outro ponto positivo é o roteiro, que não se rendeu a superficialidade e muito menos se prendeu a clichês, pois houve um ótimo controle do drama em relação aos conflitos gerados durante a história.

É inimaginável todo o pavor e medo que essas pessoas sentiram enquanto se viam sem esperança nenhuma de sobrevivência e a contínua sensação de insegurança numa época marcada pelo início de diferenças de pensamento e de governo – que persiste até os dias de hoje – e transmitir isso para a tela com uma essência e grandiosidade de sentimentos  parece se tornar impossível. Argo não se consagra por ser um filme de guerra, mas sim por atribuir pressões e dinamismo a cenas tão difíceis de causar impacto unânime aos que assistem aliado aos trabalhos altamente reconhecidos da direção e roteiro numa sintonia exacerbada da atuação. A estatueta do Oscar de “Melhor Filme” seria até mesmo pouco para corresponder a toda aflição, angústia e pânico que esses 6 americanos vivenciaram!

***** (5/5)
Argo, Estados Unidos, 2012
Direção: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston
Duração: 1h 59min


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Com homenagem aos musicais, o Oscar 2013 premia os melhores do ano

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por Amanda Prates

Eis que ontem (dia 24) aconteceu a maior premiação do cinema (senão de todos os segmentos) e não faltaram motivos para se surpreender. Seth MacFarlane foi o anfitrião da noite e esbanjou a ousadia que faltou em Billy Crystal na edição passada, que se importou em apenas arrancar algumas risadas da plateia com piadas inocentes. O diretor de Ted (e de outras produções como Family Guy e American Dad!) protagonizou shows musicais peculiares, discursos inusitados e muita zombaria (sobrou até pra Abraham Lincoln, Rihanna e Chris Brown!). Houve quem dissesse que a escolha de MacFarlane foi o grande erro da Academia para a noite, mas o moço só quebrou com o conservadorismo da cerimônia de premiação, e com maestria.

Antes da cerimônia, o red carpet foi agraciado por looks de deixar qualquer um de boca aberta. E adivinhem quem foi o centro das atenções? Não precisa dizer, mas eu digo: JENNIFER LAWRENCE! A moça apareceu ~com um vestido da Dior~ já declarando “I’m starving! Is there food here?” Espontaneidade não faltou! Jessica Chastain também desfilou deslumbrante pelo tapete, mas não mais que a fofura da Quvenzhané Wallis, que roubou a atenção dos fotógrafos com sua bolsinha de cachorro ().

Naomi Watts, Anne Hathaway, Reese Witherspoon e Adele também se destacaram, mas essa que vos escreve não está aqui para dar uma de colunista de moda (não mesmo!), nem mesmo lhes encher de textinhos inúteis que nada dizem. 

Vestidos, penteados e maquiagens à parte, a noite foi de homenagem aos musicais. Sim, isso mesmo, a Academia prestou suas considerações ao gênero que tanta gente odeia! Chicago, ganhador do Oscar de Melhor Filme em 2003 e o único desta década, foi representado brilhantemente por Catherine Zeta-Jones com o número “All That Jazz”. A partir daí, outras performances construíram a homenagem, como “Suddenly”, pelo cast de Os Miseráveis, eAnd I Am Telling You I’m Not Going”, do filme Dreamgirls pela Jennifer Hudson.

Quem levou? 


Não seria surpresa para ninguém se Argo ou Lincoln faturasse os prêmios principais. Mas o que poucos (talvez ninguém) esperavam era que a premiação ficasse tão bem distribuída. Das 12 indicações que o filme de Steven Spielberg, 2 foram premiadas, o mesmo aconteceu com O Lado Bom da Vida, 1 das 8. As Aventuras de Pi foi o maior vencedor da noite! Ang Lee viu seu filme faturar 5 das 11 estatuetas que fora indicado: Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora Original e... Melhor Diretor

O filminho da Pixar, dirigido por Mark Andrews e Brenda Chapman, venceu a categoria Melhor Animação e surpreendeu, quando o favoritismo se dividia entre Frankenweenie e Detona Ralph. Haneke não surpreendeu absolutamente ninguém com o título de Melhor Filme Estrangeiro com seu Amour, merecedor, de fato, mas não se pode deixar de destacar as grandes produções que disputaram na categoria. Adele também levou a estatueta pra colocar juntinha aos seus vários gramofones dourados, por "Skyfall", como Melhor Canção Original, concorrendo ao lado de Suddenly”, do musical Os Miseráveis, e "Everybody Needs a Best Friend", da Norah Jonas por Ted.


Agora a gente analisa individualmente as principais categorias, confira: 

- Melhor Ator Coadjuvante -
Os indicados:
Tommy Lee Jones (por Lincoln)
Phillip Seymour Hoffman (por O Mestre)
Christoph Waltz (por Django Livre)
Robert de Niro (por O Lado Bom da Vida)
Alan Arkin (por Argo)

Sejamos sinceros e afirmemos que jamais passou pela nossa cabeça que Christoph Waltz fosse ganhar essa categoria. Apesar de ele ser o meu favorito, jamais pensei que a Academia pudesse “renegar” um prêmio que parecia já estar creditado a Tommy Lee Jones. Waltz repetiu sua incrível capacidade de magnetizar o espectador em suas representações com tanta maestria que foi capaz de atingir até o difícil grupo da Academia. Emocionado, o ator subiu ao palco, quando eu esperava um daqueles discursos enternecedores típicos de artistas dessa rama. Mas ele não o fez. Aliás, nenhum deles (salvo o agraciado com o prêmio de Melhor Ator). Finalmente, uma decisão mais que justa!

- Melhor Atriz Coadjuvante -
As indicadas:
Sally Field (por Lincoln)
Anne Hathaway (por Os Miseráveis)
Jacki Weaver (por O Lado Bom da Vida)
Helen Hunt (por As Sessões)
Amy Adams (por O Mestre)

Eu já sabia, você também, todos nós que os pouquíssimos minutos de atuação da Anne Hathaway em Os Miseráveis seriam mais que suficientes para que ela fosse indicada e levasse o prêmio da Academia. A moça, que já fora indicada, desbancou nomes como Jacki Weaver e Sally Field, por O Lado Bom da Vida e Lincoln, respectivamente.  Ela é ou não uma das maiores atrizes de sua geração? ()

- Melhor Diretor -
Os indicados
Ang Lee (As Aventuras de Pi)
Steven Spielberg (por Lincoln)
Michael Haneke (por Amour)
Ben Zeitlin (por Indomável Sonhadora)
David O. Russel (por O Lado Bom da Vida)

Dessa vez não teve para o Steven Spielberg! Ang Lee com seu incrível As Aventuras de Pi faturou um dos prêmios mais importantes da noite, e ainda garantiu outros quatro, citados anteriormente. Esse é o segundo Oscar do diretor, que subiu ao palco surpreso (e não era pra menos), mas não discursou nada tão impressionante. Mas valeu muito!

- Melhor Atriz -
As indicadas:
Jessica Chastain (por A Hora Mais Escura)
Jennifer Lawrence (por O Lado Bom da Vida)
Emmanuelle Riva (por Amor)
Quvenzhané Wallis (por Indomável Sonhadora)
Naomi Watts (por O Impossível)

Tá, a gente já sabia que as chances de a Jennifer não ter levado essa estatueta eram quase nulas. Waltz e Hathaway podem ter arrancado aplausos sinceros da plateia, mas as atenções da noite se voltaram para um único nome: Jennifer Lawrence. Enquanto os atores ocupavam suas mentes com a tão sonhada estatueta, a moça só pensava em... comida! E esbanjou espontaneidade até no momento de receber a estatueta mais cobiçada da noite, a de Melhor Atriz (e não, não vamos falar sobre o tombo da moça). Narizes que se torceram com a nomeação à parte, Lawrence só provou que nem Emmanuelle Riva, em sua melhor forma, era capaz de compor um personagem tão intenso, sincero, comum e controverso como a Tiffany (Silver Linings Playbook), e convencer a Academia. Ok, abstenhamo-nos de maiores elogios, somos muito suspeitos para isso. ((♥)

- Melhor Ator -
Os indicados:
Daniel Day Lewis (por Lincoln)
Denzel Washington (por O Voo)
Hugh Jackman (por Os Miseráveis)
Bradley Cooper (por O Lado Bom da Vida)
Joaquin Phoenix (por O Mestre)

Mais uma vitória que era muito óbvia, mas Daniel Day-Lewis pareceu não esperar pelo prêmio, fato que se reforçou pelas lágrimas do ator no palco ao receber das mãos de “uma apresentadora que não precisa ser apresentada”, Meryl Streep, a estatueta mais cobiçada. Day-Lewis (que agora é recordista de estatuetas nesta categoria) fez o ÚNICO discurso interessante da noite, ao brincar com Streep sobre seus papéis em Lincoln e A Dama de Ferro, respectivamente, e ainda agradeceu à esposa. Seria muita ironia se ele não levasse essa, né gente?

- Melhor Filme -
Os indicados:
Indomável Sonhadora
O Lado Bom da Vida
A Hora Mais Escura
Lincoln
Os Miseráveis
As Aventuras de Pi
Amor
Django Livre
Arg0

O prêmio não foi para Lee, mas Spielberg também não teve o prazer de segurar a estatueta principal. Não houve ousadia como no ano passado, mas Ben Affleck, que havia sido rejeitado da categoria Melhor Diretor, viu seu Argo vencendo a dura disputa com Lincoln, além de Melhor Montagem. Argo não tem a complexidade de Indomável Sonhadora nem a magia carregada de inúmeros significados de As Aventuras de Pi, só faltou a Academia reconhecer isso.

Confira aqui a lista completa dos vencedores. 
Da esquerda para a direita, Daniel Day-Lewis, Jennifer Lawrence, Anne Hathaway e Christoph Waltz, os vencedores principais da noite.

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Review: Dois olhares sobre "Os Miseráveis"

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Uma história cantada tão verdadeiramente em Os Miseráveis 

por Amanda Prates
(Filmow - Twitter)

Fazer de um musical dos palcos do teatro uma grande produção cinematográfica, sem perder a coesão e a sinceridade nas representações é, realmente, um grande triunfo para uma equipe de diretor e roteiristas. Tom Hooper (O Discurso do Rei) o fez e é digno de todo o reconhecimento, inclusive de um Oscar de Melhor Filme. Com Os Miseráveis, o diretor pode até ter atraído maus olhares por contar a história do fugitivo Jean Valjean e de uma França sob o poder monárquico TODA cantada (salvo alguns poucos diálogos curtos), mas conduziu a única versão decente da adaptação feita para a Broadway da famosa novela homônima de Victor Hugo. Hooper conduz toda a complexidade que envolve uma produção deste gênero e sua opção por filmar os atores cantando ao vivo e evitar os estúdios para a correção das vozes só reforça a justificativa de este ser um dos pouquíssimos musicais indicados ao Oscar (e um dos raríssimos com enormes possibilidades de levar a estatueta pela categoria principal).

A trama se passa na França, após a Revolução de 1789, onde o regime autoritário e monárquico prevalecia novamente, e a população era consumida pela miséria e pela peste. O primeiro momento do filme é um cartão de visita esplendoroso, capaz de prender a atenção do telespectador por alguns minutos, com a canção “Look Down”, interpretada por Hugh Jackman e Russell Crowe, que dá o tom da história. A partir daí, Jean Valjean (Jackman) nos é apresentado como um condenado que, após uma pena de 19 anos, quebra sua liberdade condicional e é forçado a viver sob outra identidade. Já estável como dono de uma fábrica e prefeito de uma pequena cidade em outra parte de Paris, Valjean conhece a decadente Fantine (Anne Hathaway) e a promete cuidar de sua filha, Cosette, e é aqui que todo o real sentido da trama se define: ele percebe que encontraria na pequena menina todo o significado de sua vida (por mais clichê que isso possa soar), e decide protegê-la, a todo custo, de seu passado (leia-se o incansável algoz Javert).

Assim como a novela de Victor Hugo foi ridicularizada na época por toda sua intensa carga de sentimentalismo por alguns líderes de importantes correntes sócio-filosóficas, a adaptação de Hooper pode parecer algo bobo para uma parte de um público que se diz mais racional. A verdade é que Anne Hathaway toma para si todo o sofrimento de sua Fantine e dá ao filme as melhores e mais enternecedoras cenas em seus míseros minutos (que atire a primeira pedra quem não deixou derramar uma lágrima sequer com o solo de “I Dreamed a Dream”). Só com essa sentença não é preciso muito dizer que as chances de a moça não levar a estatueta do Oscar pra casa são nulas, não é mesmo? Do outro lado da trama, Amanda Seyfried e Eddie Redmayne encarnam os amantes Cosette (mais velha) e Marius, respectivamente, este último é um jovem dividido entre o amor pela moça e por sua pátria. Ambos fazem bem seus papéis, mas destaques os são creditados injustamente, não que esta que vos escreve esteja dizendo que os jovens retiram pontos do filme, pelo contrário. Porém, não conseguiram perceber (a Academia, em especial) a genialidade de Sacha Baron Cohen que, ao compor seu trambiqueiro Enjolras, faz, ao lado de Helena Bonham Carter, as melhores sequências cômicas e que dão outra dimensão da miséria; e toda a doçura de Samantha Barks, ao dar vida a uma Éponine apaixonada, expressando-se incrivelmente em “On My Own”.

Os Miseráveis é projetado milimetricamente para soar incrível na tela, mas traduzindo toda a carga de significação  à sua maneira, sem se render à total fidelidade ao texto clássico, pois este traria contigo o peso das questões sociais, e Tom Hooper dificilmente o faria sem torná-lo caricato e artificial, o típico teatralismo. Em suas quase 3 horas, o filme consegue fazer referências religiosas em seu texto e nas imagens (vide o momento em que Jean é forçado a carregar um mastro, como Jesus carregou a cruz), e propor o verdadeiro significado da vida pelo olhar aguçado de Victor Hugo sobre a realidade.

***** (5/5)

Os Miseráveis: a história cantada não a tornou mais bela

por Aline Alves

Fui correndo ver quando me disseram que Os Miseráveis ganharia adaptação nos cinemas. Depois do sucesso e de ganhar prêmios e mais prêmios com o filme O discurso do Rei, o diretor Tom Hooper, está de volta as telonas com um gênero que não tem a mesma quantidade de adeptos que o drama, estamos falando dos musicais.

O filme é a adaptação ‘indireta’ do livro magnífico Les Misérables de Vitor Hugo, este é de grande importância cultural e política. Os Miseráveis foi um grande sucesso e se tornou um dos produtos de maior vendagem da Broadway em todos os tempos. A grande questão a que isso nos leva é que uma de suas dezenas de adaptações cinematográficas, que foi filmada de forma inusitada, não é tão revolucionária como anuncia, mas conseguiu ser bem conduzida na forma de capturar as atuações, peça chave do filme.

O filme é ambientado na França do século XIX, e conta a estória de Jean Valjean, que depois de ser preso e trabalhar como escravo por 19 anos, é solto em condicional, mas não consegue se recolocar na sociedade. Redimido por uma gentileza inesperada, ele decide enfim abandonar sua antiga vida e virar um novo e respeitável homem. Esse novo homem promete cuidar de Cosette, filha de Fantine, uma de suas operárias. Mas para que isso aconteça, terá que fugir de Javert, um velho inspetor que o persegue mesmo após tantos anos, e tudo isso por causa de um mísero pão que ele roubou para salvar o pobre sobrinho que morreria de fome.

A tentativa de Tom Hooper foi fazer algo inusitado, adaptar algo que não é tão bem visto no cinema, o teatro musical estilo ópera. O formato comum de filme musical veio logo após o som no cinema, onde o filme é interrompido ocasionalmente por um número musical curto, já o formato mais tradicional dramatúrgico, há séculos como as óperas trazem longos espetáculos totalmente cantados, divididos entre dois ou três atos principais, com intervalos, o problema é que filmes não tem intervalos e 98% do diálogo do filme é cantado.

Hooper tentou criar uma técnica inovadora, captando o áudio no local, mesmo sabendo que não usaram exatamente o áudio in loco, mas sim uma versão aproximada, a técnica conseguiu extrair uma atuação maravilhosa de Anne Hathaway e Hugh Jackman, ambos indicados ao Oscar. O diretor apela pela emoção dos closes, perdendo muito de sua epicidade. Os Miseráveis não é um drama pessoal, mas sim coletivo, conta a jornada de um povo e mostrando cada parte separada o tempo todo não divulga bem essa dimensão, nas últimas cenas é possível quebrar o gelo e dar uma respirada. São cenas mais abertas, talvez Hooper quisesse aproximar-se do livro onde há essa individualidade, pois cada volume é composto por um personagem, ou pelo menos é dividido com os nomes dos personagens. 

Anne Hathaway, apesar de ser brilhante, não rouba toda a cena fica o destaque de Samantha Barks, atriz pouco conhecida pelo grande público, rouba a atenção e a revelação do filme, com uma voz extremamente bela e de sua ótima interpretação de sua personagem Éponine. O filme ainda tem seu lado cômico graças aos Thenardier, o casal que hospeda a Cosette. Vividos pela senhora Burton, Helena Bonham Carter, e pelo sempre impagável Sacha “Borat” Baron Cohen, eles são engraçados e odiosos na medida certa. Amanda Seyfried e o Eddie Redmayne não estão tão impressionantes, mas também agradam, até diria que estão um pouco apagados, nem mesmo a atuação dos dois é suficiente para salvar as cenas melosas de amor adolescente entre os dois.

Visualmente Os Miseráveis é fabuloso, belíssimo, trás um contraste evidente entre a pobreza do povo francês da época e a luta dos rebeldes pela liberdade. Um excelente trabalho da direção de arte nos leva a fotografia, figurino, maquiagem e cenários magníficos. Ver o Hugh Jackman e o Russel Crowe fazendo papéis pouco convencionais também ajuda bastante.

O grande pecado que tomou proporções épicas foi adaptar uma obra de cunho político tão rica quanto Les Miserables ao estilo musical. O problema mesmo fica no aporte cultural do grande público consumidor de Hollywood que não está preparado para um espetáculo estilo operata.

Acredito que Os Miseráveis não venha a ser lembrado como um dos maiores clássicos do cinema ou mesmo dos musicais. Mas com certeza deixou sua marca como um dos melhores filmes que seu gênero já produziu em muitos anos, gênero recheado de produções medíocres e sem inspiração, não é a toa que foi indicado a nove categorias no Oscar, incluindo o de Melhor Filme do ano.

Em suma, após 15 segundos de filme já não aguentava mais tanta cantoria, eu adoro literatura clássica, adoro dramas e amo o Wolverine, mas particularmente odeio musicais e não estou nem um pouco acostumada com o gênero que deixou o filme enfadonho, chato. Concordo que para o gênero, o filme é perfeito, mas como já foi dito, o público não está acostumado a este ‘tipo’ de musical, tudo que eu conseguia dizer ao final do filme eram as seguintes palavras “teria sido perfeito se não fosse um musical”. 

*** (3/5)
Les Misérables, Reino Unido, 2012
Direção: Tom Hooper
Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway 
Duração: 2h 38min

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Review: Tarantino faz de seu “Django Livre” um poço de exageros, mas passa longe de errar a mão

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por Amanda Prates
(Twitter / Filmow)

Quentin Tarantino quer vingança novamente, e ele o faz (!), mas desta vez, ambientada no Velho Oeste. E quando se trata de Tarantino, é claro que não estamos falando de um filme de faroeste convencional. Django Livre é uma denúncia à situação dos Estados Unidos dois anos antes à Guerra Civil – precedida pela abolição da escravatura – com tantos exageros (não nos fatos históricos, necessariamente) que chega a ser um deleite ficar numa sala de cinema por quase três horas para assisti-lo. Há sarcasmo, tiroteios, ~muito~ sangue, humor negro e palavrões, tudo misturado deliciosa e exageradamente em um faroeste ora cômico,  ora muito sério, e onde Tarantino passa bem longe de errar a mão.

É nesse clima de demasia que somos apresentados a Django (Jamie Foxx), um escravo liberto que segue o caçador recompensas alemão, Dr. Shultz (Christoph Waltz), pelo Texas e Mississipi atrás de sua esposa Broomhilda (Kerry Washington), escrava do fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). O filme prende a atenção de seu telespectador já no primeiro momento, quando Django é negociado inusitadamente pelo alemão meio-dentista para ajudá-lo a reconhecer dois irmãos que estão com as cabeças à venda. A partir daí, o ex escravo assume uma posição que, naquela época, era considerada exclusivamente para brancos e sai causando espanto pelos quatro cantos do sul ianque, um dos pontos mais denunciantes da trama.

Como é de conhecimento de todo bom admirador do cineasta, Tarantino costuma fazer de seus filmes pontos para referências a outras grandes produções, e em Django Livre a situação não poderia ser outra. Nele, o diretor “toma emprestado” elementos vindos do Western Spaghetti – termo usado aos westerns italianos – de Três Homens em Conflito e do original Django, ambos de 1966, e ainda do Blaxploitation, já usados por ele em Jackie Brown (1997) e Pulp Fiction (1994). Mais do que essas “homenagens”, o longa ainda é carregado, como é de praxe, de todos os componentes que consagraram a carreira do diretor, como os diálogos bem estruturados e longos, o humor negro, a violência estilizada que, de tão absurdas que são, chegam a ser burlescas e, é claro, toda a originalidade do roteiro.


A escalação do ótimo elenco foi mais um dos triunfos da produção. Mesmo com aquele possível burburinho de que atores como Sacha Baron Cohen, Kurt Russell, Kevin Costner e Joseph Gordon-Levitt teriam saído do cast (e de que o Will Smith havia recusado papel principal!), o filme não perde em nada, muito pelo contrário, Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson e... até o real Django Franco Nero (com a sua pontinha de participação) roubam a cena, tentando encontrar sem medo, ao lado do diretor, uma linguagem verbal e visual que possam transmitir ou recriar toda a complexidade de um mundo por trás do roteiro. Foxx compõe seu Django mais fisicamente, visto o desenho caricato que não exige dele tanto trabalho com a câmera, e faz seus pensamentos serem enviados com poucos gestos e olhares. Waltz repete sua incrível capacidade de magnetizar o espectador, percebida em Bastardos Inglórios. A sutileza em suas falas, seus movimentos, tudo parece conspirar para que sua atuação seja marcante e inesquecível até. 

Em um dos seus papéis mais “peculiares” – já que ele está quase irreconhecível –, Samuel L. Jackson domina o cenário. Encarnando Stephen, um negro odiado pelos negros e criado puxa-saco de Calvin Candie, o ator entrega uma atuação emblemática, reforçada pelos diálogos politicamente incorretos e divertidos, e tão intenso e odioso que quase nunca se o viu fazer o que fez debaixo de toda aquela pesada maquiagem. Porém, é Leonardo DiCaprio, com bem menos espaço que Foxx e Waltz, que atinge os agudos do longa com sua interpretação. Ele cria um personagem asqueroso e é capaz de representar com extrema clareza toda a ignorância e selvageria que caracterizaram os grandes proprietários de escravos deste recorte da história norte-americana. O moço não só consegue evocar uma gama de sentimentos ruins, como não nos faz duvidar que esse tipo de ser humano possa realmente existir, exatamente o que o diretor pretendia,  fato que prova sua genialidade na composição do cast.

Seria injusto eu terminar essa crítica sem deixar de destacar a trilha sonora, que como sua ilustre marca, Tarantino não poderia deixar de surpreender neste aspecto. Como grande admirador do maestro italiano Ennio Morricone, o diretor prestou mais algumas homenagens ao inserir composições como The Braying Mule, Sister Sara's Theme e Un Monumento, e outras originalmente produzidas para sua soundtrack,  Freedom (Elayna Boynton e Anthony Hamilton), 100 Black Coffins (Rick Ross) e Who Did That to You (John Legend). Essa mistura de soul music com rap até pode soar estranho em um longa deste gênero, mas Quentin soube bem como tornar essas diferenças tão naturais que é quase impossível não se envolver. No mais, Django Livre não tem a mesma força e originalidade de Bastardos Inglórios e Pulp Fiction e nem é um filme sem defeitos – peca no ritmo e na demasia de subtramas –, mas consegue ser, ao mesmo tempo, crítico, reflexivo, engraçado e perverso, além de provar que as ambições do diretor estão maiores e que ele ainda consegue, com maestria, superar as expectativas que constrói.

***** (4,5/5)
Django Unchained, EUA, 2012
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Zoë Bell, Kerry Washington, James Remar
Duração: 2h 46min

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Review: As animações indicadas ao Oscar 2013

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por Amanda Prates e Léo Balducci
(Filmow) | (Twitter

Em 2002, foi criada a categoria Melhor Animação para a maior premiação do cinema, depois de quase 74 edições. Apesar de tão recente, os filminhos animados não deixam de ser tão importantes quanto as outras produções, pelo contrário, hoje eles se encaixam dentre as categorias principais e mais esperadas da noite de cerimônia.  Por isso, a gente te apresenta as cinco animações indicadas neste ano pela Academia e revela nosso favorito. Confira:

Detona Ralph 
por Amanda Prates

Se você não é da era dos jogos para fliperama como Pac Man e Sonic, certamente tratará Detona Ralph como mais um filminho bonitinho da Disney com cara de Pixar. A trama segue o vilão de um antigo jogo – Conserta Félix – que, depois de trinta anos, se cansa de ser o personagem mais antagônico da história e decide entrar em outros jogos para adquirir uma medalha e, assim, tornar-se o “mocinho”, uma tarefa que não é tão simples assim, obviamente. Ralph antes participa de sessões para vilões anônimos, a cena mais bem arquitetada ao oferecer personagens de jogos reais como Zangief, Bowser e Dr. Robotnik – que têm a missão de persuadir o grandão com a ideia de que ser mau é bom –, se infiltra num jogo que faz referência a Halo, conhece Vanellope, um buguezinho de um jogo rosa de corrida (ou salmão, como o rei Doce insiste em afirmar), onde se envolve em mais confusões.

Apesar de haver inúmeras referências a games muito antigos que, dificilmente, um membro dessa nova geração reconheceria, o filminho de Rich Moore ainda consegue se comunicar com os dois públicos principais. Para os adultos, estão os personagens do Pac Man, do Sonic e os pequenos clássicos para fliperama como forma de homenagem. E para os adolescentes/crianças, referências aos jogos de terceiro mundo que, na visão deles, perto dos antigos, são verdadeiras obras. Com roteiro bem amarrado, Detona Ralph ainda apresenta falhas, e uma delas é que este é somente mais um filme unidimensional, que não permite muitas interpretações. Ele agrada aos gamers, ao vir recheado de nostalgia, e conta uma pequena historinha sobre aceitação, nada além disso. A semelhança com cinessérie Toy Story (quando os personagens ganham vida após o último game over) dá pouca credibilidade à produção, reforçada pela falta de originalidade, o que é deprimente. Porém, não deixa de ser um dos filmes que melhor tratou dessa temática nerd.

*** (3,5/5)
(Wreck-it Ralph, EUA, 2012)
Direção: Rich Moore
Elenco: John C. Reilly, Jack McBrayer, Jane Lynch, Sarah Silverman, Mindy Kaling
Duração: 1h 42min


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Valente
por Léo Balducci

Após sucessos como Toy Story, Procurando Nemo, Carros e Monstros SA, a Pixar nos traz mais um título de seus estúdios tentando remodular mais uma grande animação para o cinema com direção de Mark Andrews e Brenda Chapman. Na verdade, Valente surge como uma forma de buscarem redimir as bilheterias de seus antecessores, como Up: Altas Aventuras, que não atingiram nem sequer as expectativas da Disney. No entanto, alguns destaques positivos e negativos devem ser levando em conta conforme o próprio filme se desenvolve.

Em Valente somos levados novamente à era de reis e rainhas, onde a destemida Merida espera viver suas grandes aventuras.  No entanto, a jovem de cabelos ruivos encaracolados vê seu futuro traçado pela mãe após pretendentes entrarem numa competição do reino para decidir quem vai ser seu companheiro de matrimônio, o que a leva a uma repentina fuga de seu imenso castelo. O que ela mal podia imaginar é que encontraria com uma bruxa capaz de modificar seu futuro, porém com consequências não tão claras. E mesmo dizendo que a Pixar está sofrendo uma crise dita como criativa, a animação nos traz a primeira personagem feminina como protagonista e consegue nos cativar com os acontecimentos e falas cômicas – sentidas, principalmente, pela bruxa e os trigêmeos ruivos. Além disso, vale ressaltar que o capricho sempre imposto pelo estúdio continua dotado ainda mais pela profundidade das imagens e os figurinos muito bem estudados e condizentes com a época.

De uma maneira ou de outra, Valente merece seu reconhecimento por conseguir a união perfeita que uma animação precisa ter igualmente impresso num roteiro que sabe dialogar tanto com a criança quanto com o adulto.

**** (4/5)
(Brave, EUA, 2012)
Direção: Mark Andrews, Brenda Chapman
Elenco: Kelly Macdonald, Billy Connolly, Emma Thompson
Duração: 1h 40min


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Piratas Pirados!
por Amanda Prates

Se em sua primeira tentativa de lançar um longa-metragem, a Aardman conseguiu produzir algo tão genial como A Fuga das Galinhas, a expectativa que se tem é que o estúdio de animação britânico mantenha a mesma boa forma a cada filme de massinha que lance, porém a mais recente produção, Piratas Pirados!, está longe de ser algo admirável como a aposta de estreia. Filmado em stop-motion, a animação mostra um grupo de piratas que é motivo de piada entre os sete mares. Os saques são sempre fracassados, o navio está arruinado e eles possuem um papagaio que não é um papagaio (é.)! A maior ambição do Capitão Pirata é o prêmio “Pirata do Ano”, o que o leva às ruas da Londres vitoriana.
   
É nesse ambiente de fracassados que o filme exibe sua mensagem de importância à lealdade e amizade, pontos obsoletos e explorados nos mais variados gêneros, mas nunca dispensáveis em produções voltadas para o público infantil.  Mas, entre os saques a navios em alto mar, somos apresentados ao vilão na figura de Charles Darwin, à escritora Jane Austen e à Rainha Vitória, a também personagem antagônica da história. O roteirista iniciante Gideon Defoe até tenta atribuir um lado humorístico na trama, mas não passa de piadas insossas. Falhas à parte, o departamento de produção também cria sacadas geniais, principalmente nas características físicas dos personagens, as vestimentas e detalhes que uma produção qualquer preferiria deixar de lado. Mas, isso não pode ser quase tudo o que uma produção tem a oferecer.

*** (3/5)
(The Pirates! Band of Misfits, EUA/Reino Unido, 2012)
Direção: Peter Lord, Jeff Newitt
Elenco: Hugh Grant, Martin Freeman, David Tennant, Salma Hayek, Jeremy Piven, Imelda Staunton
Duração: 1h 28min


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ParaNorman
por Léo Balducci

A trama que fale sobre zumbis ou almas que ainda não receberam a aprovação divina e vagam pelas ruas podem até parecerem clichês, entretanto Paranorman tenta remodular a origem de fazer o gênero sem a necessidade de se prender a nenhum desses elementos. Usando a arte do stop-motion, temos aqui uma animação que se reúne com situações e falas cômicas e personalidade exacerbada das personagens.

Para começar, somos introduzidos ao simpático Norman, um garoto que tem o tão (não) incrível dom de ver mortos, que vive em constante conflito com seus colegas da escola, que por algum motivo aparente acham que ele é meio louco (por que será, não é?). Nem mesmo sua família consegue acreditar que ele pode se comunicar com aqueles que não estão mais em nosso plano, mas a herança vem de seu tio (visto como louco por toda a cidade). Por outro lado, tudo parece mudar quando seu parente com o dote sobrenatural também morre e deixa sobre sua responsabilidade a missão de impedir que uma bruxa malvada retorne à vida e se vingue daqueles que um dia a acusaram. Não deu nem tempo e zumbis começam a invadir a cidade e antecipando a maldição. E diante disso tudo temos a estabilidade de uma crítica social bem complementar, que condiz com os valentões do pedaço e os pensamentos diferentes de cada geração. Em contraponto, a maior evidência de toda a essência sobrenatural vem dos pontos mais altos da história em que a morte era vista como única forma de impedir o mal de aflorar, assim como exerce a influência da presença de acontecimentos extremos.

Paranorman explora as sensações de nós mesmos enquanto nos mostra uma dimensão de imposições sociais (como a irmã patricinha de Norman e o rechonchudo colega da escola) em meio às exposições visuais de uma animação que não se preocupa em trazer o 3D mais realista, mas sim a clara relação sem nexo que um longa do gênero atribui na condição de uma criança.

**** (3,5/5)
ParaNorman, EUA, 2012
Direção: Sam Fell, Chris Butler
Elenco: Kodi Smit-McPhee, Anna Kendrick, Casey Affleck
Duração: 1h 33min


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Frankenweenie 
por Amanda Prates e Léo Balducci

(por Amanda Prates)
Eis que eu me deparo com a melhor animação indicada ao Oscar, mas com uma mensagem tão simples como as demais da categoria em questão. Ao recriar seu roteiro original de 1984, Tim Burton fez de Frankenweenie um “filme de massinha” capaz de resumir todo o seu estilo de fazer cinema imaginativo ao narrar a história de Victor, um garoto de feições sombrias e apaixonado pela ciência, que perde seu cão, Sparky, num acidente fatídico. O garoto então, numa noite de tempestade, emprega todos os seus conhecimentos científicos para fazer seu bichinho renascer, e o faz. O próprio diretor confessa que o longa-metragem é carregado de inspiração autobiográfica e o garoto da história é uma espécie de alter-ego dele, já que produz suas próprias películas e sempre era tratado como estranho na escola.

O filminho em stop-motion e preto-e-branco segue a mesma linha da primeira versão, porém, com uma extensão mais intensa, comovente, divertida e que tenta impor a mensagem de que o bizarro é algo mais que comum, ao apresentar personagens que fazem alusão a corcundas, zumbis e vampiros. Apesar de o desfecho de Frankenweenie cair num clichê previsível, tudo é tão deliciosamente agradável e carregado de aromas nostálgicos que esse detalhe pode até não passar por avaliações de um adulto que assiste. 

(por Léo Balducci)
Quando se ouve falar de Tim Burton, espera-se uma produção feita de pura fantasia e incrementada com uma atuação incrível de Johnny Depp sempre usando as maquiagens e figurinos mais extravagantes. De certa maneira esse conceito está certo, mas não exerce uma influência única com a provável animação ganhadora da estatueta da Academia, Frankenweenie. Na verdade, Burton soube drenar basicamente todas os sentimentos que podem ser atribuídos ao filme, desde lembranças pessoas e identificação até chegar à arte expressa do stop-motion, que realça todos os elementos presentes na trama.

Todo embaçado em preto e branco – assim criando um ar mais sombrio – e destacando características de alguns personagens (como formatos faciais e relevância nos traços) contribui para surgir a complementação da animação que nos conta a vivência de Victor Frankenstein e de seu cachorro Sparky.  Porém toda a dramatização do filme começa a fazer efeito quando o cão morre e na esperança de tentar trazê-lo de volta à vida, o garoto cientista resolve praticar seus dons numa experiência usando ondas de correntes elétricas e a força potencial de um raio. Apesar de surreal para qualquer época, Sparky retorna a vida, mas causa preocupação intensa em Victor após alguns de seus colegas descobrirem e tentarem fazer o mesmo com seus animais de estimação já falecidos. O modo como é empregado os sentimentos e as ações das personagens pode parecer até meio inconsequente, no entanto nos remete a refletir sobre nós mesmos recordando de quando perdemos nosso amigo peludo ou projetar nossas emoções em cada fala e momento de tristeza, assim confraternizando com a essência da produção. Não há como negar que nenhum dos alunos do tal escola, e muito menos o professor, deixam de ser vistos como próprios motivadores da sensação incessante do bizarro que tudo precisamente representa.

A conciliação das emoções faz com que Frankenweenie denomine as grandes possibilidades de trazer o Oscar para Tim Burton, que parece ter trabalhado constantemente na criação de um fundamento para a constatação do conceito de suas obras e de outros grandes marcos do cinema, principalmente dos anos 1930. A morte é estabelecida como incerta, mas nos permite desenvolver seu fim!

***** (4,5/5)
(Frankenweenie, EUA, 2012)
Direção: Tim Burton
Elenco: Charlie Tahan, Winona Ryder, Martin Landau, Martin Short
Duração: 1h 27min


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