Review: Jennifer Lawrence é o tordo de "Jogos Vorazes: Em Chamas"


Vivendo sobre um momento de muitos conflitos e manifestos da população reivindicando melhorias nas condições de vida, Jogos Vorazes: Em Chamas nunca se fez tão oportuno. Logicamente que o lançamento do filme no Brasil antes de todo o mundo não passou de uma feliz coincidência com as causas relacionadas à revolta das multidões, afinal a estreia no feriado sempre foi o principal alvo da distribuidora. A adaptação para os cinemas da obra de Suzanne Collins traça uma maturidade e assertividade muito mais eficaz que outras grandes sagas consagradas (Harry Potter é o único que se igual em função de qualidade) e começa aqui a adquirir sua personalidade própria tanto no cinema como na literatura norte-americana.

Para os amantes de Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), a sequência traz a personagem exibindo mais vigor de suas características e um censo mais abrangente de suas decisões, que afetam toda a Panem. Após vencer o massacre de jovens dos 74º Jogos Vorazes e, de certa forma, burlar o sistema da Capital, Katniss se transforma em uma esperança para as pessoas que vivem nos distritos se rebelarem e lutarem para ter seus direitos dignos de convivência. Ela só percebe o alcance desse poder quando participa da Turnê da Vitória, que tem como função apresentar o vencedor (nesse caso, vencedores) dos jogos e induzir a população sobre a influência da Capital, ao lado de Peeta Mellark (Josh Hutcherson), com quem vive uma falsa relação de amor em prol da aceitação do público. Sendo uma eminente ameaça, o presidente Snow (Donald Sutherland) não tem alternativa a não ser eliminá-la, só que de uma maneira bem mais discreta e avassaladora. Acontece, portanto o Massacre Quartenário, uma edição especial dos jogos, que escolhe para voltar à arena os vencedores anteriores. Com isso, Katniss agora terá que não somente desafiar a Capital, mas também a si mesma.

Não há como negar que Jogos Vorazes exerce uma intensa dominação sobre o público jovem, que lotam salas de cinema para vibrar a cada cena, porém é importante ressaltar em como o enredo central é envolvente e condiz com nossa realidade. Será que só as pessoas da Capital convivem com o apelo sensacionalista da televisão? O governo corrupto e superficial só existe em Panem? A reflexão que tantos temas voltados para nossa sociedade pode causar não é apenas um fruto da imagem heroica de Katniss Everdeen, mas também um conceito mais amplo que atribui o sentido da força e presença efetiva da mulher.



A junção dessa base predominante de revolução com a de produções hollywoodianas, traz um longa-metragem repleto de sentidos de coragem, persistência e gêneros de ação, aventura e um suspense linear que nos guiam para a interpretação das razões pela qual a protagonista faz suas decisões. Muito mais personificado que o primeiro (afinal o orçamento quase que dobrou, com 140 milhões de dólares), os elementos mais perspicazes presente nas páginas do livro de Collins reflete intensamente nas telas, incluindo falas épicas e as descrições dos cenários. Contudo, por ser uma sequência é impossível assimilar certos fatos sem um conhecimento prévio e mesmo com o primeiro filme em mente, algumas atribuições chegam a ser jogadas para o espectador – visando que seja o mais inteligente possível para compreender sem aquela explicação à lá papinha de bebê. Por isso, a trama estabelece um patamar ainda mais sólido e dialoga com as pessoas que assiste da maneira mais aceitável.

Atuações como a de Sam Claflin como Finnick Odair, que deve ter tirado muitos suspiros das garotas, Jeffrey Wright como Beette, que mostra que a inteligência nata vale mais que músculos na arena, Jena Malone como Johanna Mason, que chegou a surpreender muitos fãs com a personalidade rebelde e incisiva (roubando a cena), e de Lynn Cohen como Mags, que aposto ter tirado muitas lágrimas, dão todo o sentido para nos identificar e criarmos laços de afetividade – que é o fator principal para um envolvimento maior. Créditos grandes também para o trio, composto por Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson e Liam Hemsworth. Mais do que nunca, ele mostraram que conhecem seus personagens e souberam contextualizar perfeitamente com as emoções e aflições transpassadas para o telão. Nesse caso, destaque para a vencedora do Oscar (seu salário foi de 500 mil do primeiro filme para 10 milhões), que se tornou o verdadeiro tordo para a franquia – capaz até mesmo de salvar qualquer falha que, por ventura, venha surgir. Aplausos para Woody Harrelson como o excêntrico Haymitch (e suas ótimas sacadas para um alcoólatra que nos faz rir, docinho), Elizabeth Banks como a adorável Effie (quem não se comoveu vendo ela disfarçar as lágrimas no momento da colheita?) e Lenny Kravitz como o incrível Cinna (“Lembre-se, eu ainda continuo apostando em você, garota em chamas”, _|||_).

O diretor Francis Lawrence conduziu muito bem as fimagens, dando a cada ator o desejo de trabalhar prontamente para seu personagem. Como não vibrar com as cenas e cenários impecáveis? Os efeitos especiais são de primeira e nos permite realmente acreditar no que está sendo mostrando, como a névoa trazendo à tona queimaduras vívidas e doloridas e os macacos mutantes preparados para atacar. A fotografia e trilha sonora dão esse ar sombrio que o filme pede e registra a amplitude como as cenas são passadas.

Compartilhando de muitas emoções, Em Chamas pode sim ser considerado muito superior ao original, deixando o espectador ainda mais atento e seduzido pela obra. Não restam dúvidas de que a saga tem muito a oferecer, não só como entretenimento, mas também como um abrangente símbolo de esperança (este o título do último livro, que por questões lucrativas, será dividido em duas partes nos cinemas). Está aí um ótimo filme que não tem medo de lutar, acreditar e ousar quando necessário. Afinal, agora todos nós somos os tordos!



The Hunger Games: Catching Fire
Diretor: Francis Lawrence
País de Origem: EUA
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth
Ano de Lançamento: 2013
Distribuidora: Lionsgate / Paris Filmes
Duração: 2h 26min

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