Big Exemplo

por Aline Santos

O Grande Irmão (ou Big Brother, do original em inglês) é um personagem do livro "1984", de George Orwell (1903-1950), escritor indiano que se criou na Inglaterra. Nesse livro Orwell profetiza sobre uma sociedade em que o Estado, representado pela figura do Grande Irmão, controla a sociedade. O Grande Irmão é uma figura abstrata, ninguém consegue vê-lo, mas ele pode ver todo mundo e dessa forma controlar suas ações. O título “1984” é uma inversão do ano em que ele foi escrito, 1948, não se sabe ao certo o que se passava pela cabeça do autor ao fazer essa inversão.

Mas e o Big Brother que conhecemos hoje? Pessoas confinadas em uma casa sendo observadas todo o tempo por câmeras. Como surgiu essa ideia? Qual a relação com a obra de Orwell? Em 1999, John de Mol, um executivo da TV holandesa, sócio da empresa Endemol, teve a ideia de criar um Reality Show onde pessoas comuns seriam selecionadas para conviverem juntas dentro de uma mesma casa, vigiadas por câmeras, 24 horas por dia. O nome do programa foi inspirado no livro de Orwell, 1984.

Feitas as apresentações, surgem questionamentos acerca desse reality show, amado por uns e odiado por outros, que invade sem permissão a tela de milhões de brasileiros. Concentro minha crítica não sobre a qualidade dúbia do programa em questão, pois convenhamos nunca chegaremos a uma conclusão satisfatória. O Big Brother, como qualquer outro programa popular e de divulgação em massa, acaba se tornando referência para muitas pessoas, em especial jovens, sendo esse exemplo passado que tanto incomoda. O programa tem uma mensagem: “Estamos de olho”, mas a mensagem subliminar do programa é mais perturbadora, é como se o reality incentivasse pessoas a passar horas em academias, turbinassem seus corpos com litros de silicone e pronto! Dessa forma você vai conseguir alcançar sua posição social na sociedade, ficarão ricos de um dia para o outro.

O economista Marcelo Paixão, em uma entrevista sobre o negro na sociedade, mas que serve de referência para o assunto em questão, disse que os jovens brasileiros estão carentes de exemplos. Como fazer com que jovens acreditem na educação como ferramenta de ascensão social, se ele pode se tornar um jogador de futebol rico e famoso ou então um brother milionário. O Brasil já é um país com um histórico não muito animador com relação à educação, nossos representantes não se mostram muito solícitos quando o assunto é educação, o motivo: a equação é fácil POVO + EDUCAÇÃO = VOTO CONSCIENTE. Sim, é fato, não é conversa de crítico que quer dá ênfase ao que escreve. Pesquisas revelam que o Brasil é um país onde as pessoas ainda não conseguem acreditar na educação como forma de conseguir estabilidade.

Todos os outros fatores negativos que os críticos insistem em salientar também incomodam. O Big Brother aliena as pessoas, o valor absurdo que se gasta a fim de montar um programa poderia ser investido em algo que trouxesse um pouco mais de cultura a sociedade, afinal nós precisamos. Mas para mudanças, é preciso que a juventude acorde, tais programas ameaçam a herança que deixaremos para nossa sociedade, quem será nosso Malatesta do futuro? Teremos outro Marighella?  Será que temos um novo problema assolando nossa sociedade, nosso legado de pensadores e líderes está ameaçado por subcelebridades desesperadas em ganhar fama e dinheiro? Escrevendo isso em um momento de nostalgia pensei: se nossos jovens se pintassem de novo...


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