Review: Britney Spears e seu presente íntimo para os fãs em "Britney Jean"
O que vem a nossa mente quando pensamos
em Britney Spears? Baby, One More Time..., careca, paparazzi, louca, drogas, Toxic. Por um bom período, o nome da cantora esteve sim envolvido em várias
polêmicas, que resultaram em torná-la a tão comentada Princesa do Pop. Foram
brigas com fotógrafos, crises de personalidade (?) e várias fotos que comprovam
o momento instável pela qual ela passou, fazendo com que precisasse ter um
responsável legal para cuidar tanto de sua conduta quanto de seu estado
financeiro. Mas convenhamos alguém já parou para pensar na pressão que ela deve
ter passado?
Entre tantos empecilhos, seu nome ficou
manchado e seu lado como pessoa passou a ser mais importante do que a artista
em si. E não é para menos, atualmente Britney é nada mais do que uma das
celebridades mais assediadas publicamente do mundo, onde tudo aquilo que coloca
as mãos vira notícia. Por isso, não podemos culpá-la inteiramente por seu surto
emocional e pessoal, que também reflete sua busca pela identidade. Identidade
essa que ela parece já ter encontrado.
Quando lançou o álbum Britney em 2001 (que trouxe hits como I'm A Slave 4 U),
os holofotes estavam prontamente direcionados para conhecermos a real cantora
da geração. O trabalho foi preciso e rendeu outros milhões, no entanto cadê a
Britney que nós tanto procurávamos? O resultado foi, sem dúvidas, avassalador,
imprimindo suas condições de uma mulher sexy e destemida, contudo sentimos
falta de conhecer mais seu íntimo, mais daquilo que ela gosta e pensa. Com isso,
aparece Britney Jean, o novo e quentíssimo álbum de Spears, que pretende
também não exibir um patamar de situações vivenciadas por ela, mas sim situar
como um presente íntimo para os fãs. E deu certo!
O disco abre com a tão aguardada Alien, formando uma baladinha calma e
totalmente simples. As batidas se encaixam muito bem no ritmo gostosinho da
faixa, que possui um pré-refrão bem convincente. Viciados na frase "Not Alone" (muitos aí pensando que era “naralon”)? Uma das preferias para os fãs para
virar single (assim como por quem vos escreve), trazendo um pouco desse
peculiar som que gostamos de escutar na voz de Brit. Suave e sem dubstep
pesado. Deixando nossas cabeças piradas, somos levados direto para as batidas
cruas e incisivas de Work Bitch. O carro-chefe do álbum é nada mais do que
uma farofa muito bem produzida, por sinal (pontos para Will.Sou.Eu), porém
achamos meio distorcido e confuso em meio ao repertório tão singelo composto
por baladas. Assim entra Perfume para diminuir o ritmo e podemos dizer que
amamos essa oscilação da cantora com seus graves. Essa sim podemos pautar o não
uso de auto-tune condizendo com a melodia suave. Tudo parece se encaixar bem,
apesar de considerarmos a letra um pouco mal explorada – isso levando em conta
que é uma composição da australiana Sia, responsável pelos hits tão bem
escritos como Diamonds de Rihanna e Titanium de David Guetta. É boa e dá
para o gasto de persuadir os charts como um single.
Voltando para esse dubstep impregnado, temos It Should Be Easy. A música
estava prevista para adentrar no disco de Will.I.Am, mas foi descartado após
vazar na internet (o que é uma grande pena – só que não). Ela soa bem
repetitiva e em nada contribui para controlar os motivos para conhecer o lado
mais Britney e menos comercial. Mais uma vez, Will precisa deixar essas vozes
auto-tunadas horríveis – esse foi o fator principal para estragar a música, que
já não é boa. Entretanto, depois de Gretchen tanto reclamar da falta de uma base urban conceitual no repertório, vem Tik Tik Boom para nossa alegria. A
faixa continua abusando nas batidas e de um refrão bem repetitivo, contudo a
parceria com T.I. quebra essa tensão individual. A canção é uma daquelas que
ouvimos e já entramos facilmente em seu lado lírico. Quanto à Body Ache,
vamos usar uma frase bem Neyde para descrever: “Só digo uma coisa: Não digo nada. E digo mais: só digo isso”. Ela
soa bem como uma reciclagem bem barata de Scream And Shout, parceria de
Britney com olha-ele-aí-de-novo Will.I.Am.. Nada de novo, nada de bom, mais do
mesmo!
E tudo leva a crer que a parte comercial está prestes a dar espaço para o lado
minimista e íntimo de Britney, mas não antes de Til It’s Gone. A música não é
ruim, muito pelo contrário traz uma ótima singularidade com frases silábicas
(já ouvida antes em outras faixas da própria cantora), mas seu refrão ainda na
base eletrônica cansa se somado ao repertório na íntegra. Cantamos e sofremos
um pouco para finalmente chegar a uma das composições mais bem feitas: Passenger. Com uma introdução quase nostálgica das trilhas sonoras de
videogames, temos aqui um dos melhores refrões do álbum, que passa por essa
sensibilidade e melodia das antigas músicas de Neydoca. Ela não faz mais a
muda, ela agora canta (e sem tanto auto-tune). Nossa aposta para single é com
certeza essa. E se tudo esta caminho para o melhor, essa expectativa só aumenta
quando ouvimos Chillin’ With You, parceria com sua irmã Jamie Lynn Spears. Além
de flertar com a percussão do country, encontramos versos tão singelos ao ponto
de nos fazer cair de amores quando Jamie entra para cantar. Sua voz mais grossa
e meiga faz uma belíssima combinação com o ritmo – ainda mais quando chega ao
refrão.
Já na décima faixa do disco, damos de cara com um título bem provocativo a um
tal de JT. Don’t Cry realmente soa como uma responde muito bem dada ao hit do
cantor de POP e R&B, Cry Me A River. Com o coração partido, Britney canta
sobre estar pronta para superar aquela relação e pede para seu parceiro não
chorar (apesar de ela mesma assumir que não conseguiu conter as lágrimas).
Acabou a versão standard, porém não chorem já que Brightest Morning Star vai
tocar na Deluxe. Dona de uma das melodias mais deliciosas, a forma como as
frases são ditas tornam tudo mais lindo. Trocaríamos sem medo qualquer uma das
farofas acima por ela. Não tem como não amar o ritmo já mesmo na primeira
ouvida. Hold On Tight também tem um refrão muito animador e confiante, embora
os versos na primeira estrofe em si não acrescentem muito. Finalizando, Now
That I Found You é uma bela e até descarada mistura de Wake Me Up do Avici com Timber do Pitbull e Ke$ha. O break eletrônico é nitidamente igual aos citados
e não restam dúvidas de que houve sim uma inspiração (pelo menos do primeiro), mas nada que estrague o
sentido mais country e puro da canção. E apenas desnececyrus uma versão remix
de Perfume no final da tracklist!
Então, o que podemos dizer sobre Britney Jean? Começamos com a afirmação mais
do que necessária de que o álbum homônimo não representa completamente a
personalidade de Britney Spears, afinal fica evidente o controle da gravadora e
dos produtores envolvidos em terem um segundo plano comercial caso as melhores
faixas não se derem bem nas paradas musicais – o que, ocasionalmente, pode
acontecer. Serve apenas como pressuposto de uma parte da estrela (que tem
co-autoria em todas as faixas) e um símbolo de carinho e amor para seus fãs.
Como ela já havia comentados anteriormente, o disco foi feito pensado em seus
fãs e não somente em seus sentimentos e experiências. Não pode ser considerado
nenhum marco em sua carreira (o que em um ano de grandes retornos, parece estar
sendo bem complicado de alcançar), contudo simboliza um amadurecimento musical - mesmo que mínimo. O ícone de muitos também tem uma vida e essa deve ser uma de
suas prioridades. Afinal, se você quer ser uma Princesa do Pop, “you better
work, bitch”!
Artista: Britney Spears
Álbum: Britney Jean
Lançamento: 3 de Dezembro de 2013
Selo: RCA / Sony
Produção: will.i.am, Anthony Preston
Duração: 51 min
Gênero: POP