Review: "Clube dos Cinco", o clássico contemporâneo


Há tempos que a Sessão da Tarde não nos agracia mais com obras-primas do cinema como esta. Escrito e dirigido pelo aclamado John Hughes, responsável por filmes como Curtindo A Vida Adoidado, Gatinhas e Gatões e pelo roteiro de Meu nome é Taylor, Drillbit Taylor, o clássico dos anos 80, Clube dos Cinco, não é apenas um filme, mas uma experiência de vida.

A ousadia do roteiro começa em não adotar um protagonista, mas cinco. Cinco adolescentes totalmente estereotipados, representando os jovens americanos da época, considerada por muitos como uma época perdida para estes mesmos jovens, que não tinham sua própria voz. Com base nisso, temos a patricinha, o esportista, o rebelde, o nerd e a esquisita. Cada qual com seu próprio motivo para estar na escola num dia de sábado, de castigo, com a tarefa de escrever uma redação de 1.000 palavras sobre quem eles eram, como eles se viam. Esta era a primeira vez que os cinco conversavam uns com os outros, e seria também um momento decisivo na vida de cada um.

Ao longo do filme, nós vemos os cinco personagens crescerem e, apesar de suas diferenças, aprenderem uns com os outros coisas que nunca imaginavam aprender. Tudo na base do diálogo que, aliás, é fundamental para o filme todo. A cena clássica em que os cinco estão sentados formando um círculo no chão e compartilham suas histórias e segredos é um grande exemplo disso.

John Hughes é conhecido por retratar com exatidão e sensibilidade a fase da vida mais conturbada de qualquer pessoa: a adolescência. Mas, diferente de outros filmes em que o mesmo ocorre, este é denso, pesado e muito profundo. Quando uma pessoa é confinada longe daqueles com quem ela está acostumada a conviver, ou longe do lugar em que ela está acostumada a ficar, é que ela realmente entra em contato com seu interior. No caso dos cinco personagens, seu confinamento não é só em solidão com eles mesmos, e sim com completos estranhos, cuja capacidade de interação vai muito além do esperado.

Mas esse filme, de 1984, se encaixa em um contexto atual? Perfeitamente.

É de se estranhar, inclusive, que um filme assim costumava ser exibido na Sessão da Tarde. É de se estranhar mais ainda que tenha parado de ser exibido agora que o filme parece se encaixar ainda melhor do que na época. Isso apenas devido aos diálogos e temas abordados dentro destes. Temas como sexualidade, questionamentos comportamentais, bullying – do qual todos estamos cansados de ouvir, mas neste caso é abordado de uma visão completamente diferente –, relacionamentos familiares e crises existenciais. Ainda há uma cena em que os personagens consomem drogas ilícitas de maneira explícita, mas não como se isso fosse algo ruim.

Por que as patricinhas agem do jeito que agem, e são tão cheias de si, e se acham tão superiores aos outros? Por que elas reclamam tanto da vida se, aparentemente, ganham tudo o que querem e tem tudo o que precisam, e suas vidas são perfeitas? Ou será que não é bem assim?
Por que aqueles caras populares que praticam esportes gostam de pegar no pé de outros alunos e praticar o tão discutido bullying? Por que eles e as patricinhas falam mal de todo o resto da escola, que eles consideram inferiores, por trás de suas costas? O que passa na cabeça de um bully desses quando ele faz algo humilhante com outra pessoa?
Por que os crânios se preocupam tanto com suas notas, e o que um nerd estaria fazendo no castigo, num sábado na escola? Eles também tem problemas familiares? O que se passa na cabeça deles?
O que aquela garota esquisita que não conversa com ninguém e sempre faz coisas bizarras tem a te oferecer? Como é a sua vida, e será que ela pensa e sente coisas como todos nós? Se sim, por que ela não interage com o resto do mundo?
E por que o rebelde - aparentemente “sem causa” -, se comporta desta maneira? Para chamar atenção, talvez? Descontar os problemas de sua vida frustrada? E o que ele e uma patricinha podem ter em comum?
Você acha que nada disso pode entrar em um contexto atual?

Bom, eu digo que entra sim. E não só entra, como resolveria muita coisa se todos os jovens assistissem a este filme. Porque a empatia trabalhada ao assistir é incrível, e os diálogos te forçam sempre a olhar tudo de outros ângulos. A década de 80 foi marcada com filmes do gênero, e o Clube dos Cinco foi, com certeza, o maior deles. Nós vemos nos dias de hoje novos filmes que tentam resgatar o tema, como o recente As Vantagens de Ser Invisível, inspirado no livro de Stephen Chbosky, ou até Moonrise Kingdom, de Wes Anderson, que tiveram uma clara influência dos clássicos. Tudo abordado em filmes como estes é de extremo interesse para os jovens, e são quase obrigatórios para todos nesta idade, mas Clube dos Cinco com certeza se destaca. Porque, como já foi dito: não é apenas um filme, e sim uma experiência de vida.




The Breakfast Club
Diretor: John Hughes
País de origem: Estados Unidos
Elenco: Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Paul Gleason
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de lançamento: 1985
Duração: 1h 37min

Um comentário:

  1. Acho legal o filme, mas... clássico? Não creio que seja. Tem muitas falhas, por exemplo, o final bastante forçado, os casais se formando, a transformação da Allison...
    Fora que os personagens adultos são uns idiotas... O Paul Gleason tem um personagem totalmente bidimensional, nem um pouco realista.
    A idade do Judd Nelson também incomoda um pouco; durante o filme, não conseguia evitar de ver o Bender como um marmanjo que mora com os pais pagando de punk rebelde e tal...
    Enfim, é um bom filme - só acho que tá ficando um pouquinho superestimado...

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