Review: Gulhermo Del Toro e seu terror pertubador de "Mama"

Enquanto os estúdios abusam de filmes gravados com uma câmera de pulso, Mama prefere retornar ao gênero do terror com suas preferências habituais, usando de sustos repentinos e visuais assustadores para chamar atenção do público, sem mencionar um enredo assíduo de elementos que provocam ao mesmo tempo comoção e repulsa. Nada do que se possa descrever sobre o trabalho de Guilhermo Del Toro é suficiente para exemplificar toda a essência de suas obras, que dessa vez parte da adaptação de um curta do argentino Andrés Muschietti – que também dirige e roteiriza.

Saindo de uma zona de conforto propícia de erros, o terror começa quando duas garotas são abandonadas misteriosamente numa cabana por seu pai, que após matar sua mulher por problemas com sua empresa (dinheiro envolvido), acaba desaparecendo ou comete suicídio (ou talvez algo mais). Quando seu irmão gêmeo Lucas (Nikloaj Coster-Waldau) consegue finalmente encontrá-las depois de alguns anos, as órfãs levam consigo hábitos selvagens e totalmente desprezíveis para um convívio em sociedade. Com a ajuda de um psiquiatra, ele e sua namorada rockeira-estilo-punk Annabel (Jessica Chastain) percebem que além dos maus modos, elas também carregam uma assombração macabra descrita como Mama – que tem cuidado delas desde então. Sem saber muito como lidar com a situação, Annabel se vê envolvida numa disputa pela atenção e guarda das garotas, porém planos mais profundos e malignos talvez possam estar reservados para ela por Mama.


Por não ter como base uma sinopse convencional, o terror pode acabar até evitando certas pessoas pela astúcia como envolve sua trama, porém se faz necessário toda à criação desse universo repleto de mistérios para a representação de uma criatura que anseia por sua realidade. Provavelmente o ponto mais alto de toda a produção seja seus cenários escuros e macabros, que tem como relação à personificação vibrante e assombrosa das crianças, que por sua vez derem um dinamismo de sensações que partiam desde o desespero até a empatia – em que os estranhos desenhos possam desempenhar a parte mais repulsiva dos elementos visuais. Tratada como um conto de fadas obscuro (com direito a “Era uma vez...”), o roteiro tem uma introdução bastante satisfatória, entretanto não se pode falar o mesmo do final e de temas meramente clichês – como a incessante investigação do protagonista em busca de respostas que nem sequer são mesmo explicadas. A direção e os produtores podem até se sentir orgulhosos do filme, mas é nos efeitos especiais que o filme ganha seu verdadeiro “salve”, onde a assustadora Mama tem seu retrato (com inspirações japonesas) e contribui para os sustos de subir na cadeira e o “roer de unhas” em momentos inesperados.

Embora Mama não seja nenhuma revolução no gênero de terror, ela se mostra fiel aos adjetivos que consolidaram o tema e, mesmo que talvez o rosto de Mama não precisasse ter sido apresentado – para dar mais mistério à personagem – ou a sequência final ter sido alterada para algo mais frenético e considerado assustador, a investida em diálogos bem colocados e cenas mais apavorantes no decorrer do enredo conseguem deixar o filme com o ar “escuro” e complexo que possa definir a existência de uma Mama. Afinal, será que levamos conosco alguma Mama?




Mama
Diretor: Andrés Muschietti
País de Origem: Espanha/Canadá
Elenco: Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier 
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de Lançamento: 2013
Duração: 1h 40min

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