SAGAS: Harry Potter e a Ordem da Fênix

por Léo Balducci

O texto a seguir faz referência à obra cinematográfica.

Nada de brincadeiras bobas ou feitiços desastrosos, “Harry Potter e a Ordem da Fênix” vem para comprovar que, de uma vez por todas, o pequeno bruxo cresceu e tem que possuir maturidade suficiente para enfrentar todos os desafios do mundo adulto que começam a aparecer. O principal retoque que a saga necessitava surge do diretor britânico David Yates e das 700 páginas do livro de J.K. Rowling, que não só se aprofundou no personagem como também conseguiu induzir vários leitores para as profundezas do universo mágico.

Nos primeiros minutos da sequência, somos surpreendidos com a presença dos Dementadores invadindo a tela e causando o desconforto de saber que as criaturas sombrias podem vagar pelas ruas de Londres livremente (o que não é bem verdade). Portanto, o jovem bruxo não hesita em lançar um feitiço para espantá-los e acaba sendo mais uma vítima da cruel burocracia e injustiça do Ministério da Magia, que se nega a confirmar o retorno de Lord Voldemort (Ralph Fiennes). Com a interferência do Ministério na ativa, a escola ganha uma representante do conselho, a empolgada de laço rosa no cabelo Dolores Umbridge (Imelda Stauton), que assume o cargo de professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Esse novo regime tanto impede que os alunos possam se expressar quanto de realmente aprender a se defender de tempos difíceis, que cada vez mais ficam evidentes de estarem chegando. Em busca de tentar se proteger Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Hermione Granger) resolvem criar a “Armada de Dumbledore”, uma espécie de grupo (secreto) que ajuda uns aos outros a praticarem feitiços de defesa e ataque. Como era de se esperar, o “garoto que sobreviveu” vai ter que lidar com muito mais do que apenas conflitos de um adolescente, mas também contra si mesmo.


É visível a qualidade que tanto o enredo quanto a direção tiveram até aqui, abusando do que todos os elementos que constituem a obra têm de melhor. Yates soube como ninguém até agora explorar seus atores ao máximo e tirar à essência dos personagens de tal forma que fica inevitável não esperar atuações mais sólidas e condizentes com a interpretação mais realista que a saga começa a programar. Um amadurecimento simultâneo parte dos protagonistas, principalmente de Radcliffe, que se consagram como as grandes revelações do cinema britânico (e até mesmo mundial). Impecável é o que se pode dizer das interpretações feitas por Imelda, Michael Gambon, Alan Rickman, Fiennes, que sabem dar a dosagem exata de dramaticidade e efeitos cômicos – que mesmo sendo poucos, dão ritmo ao filme. Temos também a atuação de Evanna Lynch como Luna Lovegood, que é propositalmente o que se poderia esperar (não chocou, mas também não decepcionou). Além disso, contamos também com a possibilidade de conhecer o passado de alguns personagens já trazido à trama anteriormente, como é o caso da trajetória trágica de Neville Longbottom (Matthew Levis). Aplausos infinitos vão para Helena Bonhan Carter que desempenha de forma magnífica o papel da malvada Bellatrix Lestrange, onde mesmo com poucos minutos em cena consegue ganhar um imenso destaque e faz com fervor e crueldade uma das cenas mais emocionantes da saga (a risadinha maligna é, sem dúvida, a mais cativante).

Quem também está de parabéns de novo é a direção de arte, que a cada ano recebe mais admiráveis méritos por inserir na tela toda a proporção de cenários e ambientes que focalizam a trajetória da estória e ainda projeta uma fotografia imensurável que provoca a sensação de não querer nem ao menos piscar. Não há como negar que os efeitos visuais chegam ao seu auge de especialização, contribuindo para uma exploração mais amplificada dos elementos mágicos, que foram cautelosamente inspecionados por Yates. Assumindo o roteiro, Michael Goldenberg prova que tem uma formação muito aperfeiçoada em tirar apenas o mais importante, aparando muito bem as arestas e não deixando nenhuma parte isolada ou sem compreensão, o que contribuiu para o desenrolar mais solto e preciso do enredo cada vez mais atribuídos de complementação mútua. Nicholas Hooper fica responsável por trabalhar a composição das cenas e esclarece que sabe muito bem sincronizar os acontecimentos com os efeitos sonoros mais propícios, fazendo uso de partes conotadas do tema original produzido por John Williams.

Sabendo que em nenhum momento teríamos um longa-metragem que fosse direto ao ponto de abrir o império do mal de Voldemort, elogios para Rowling em tirar lá do fundo da “cachola” essa introdução mais sombria antes de dar o pontapé inicial nos planos do Lord das Trevas (afinal, quem poderia imaginar que ninguém iria acreditar em Harry?). Está tudo muito bom, tudo muito “à lá profecia”, entretanto “Harry Potter e a Ordem da Fênix” não é de imediato o ponto mais forte das aventuras do bruxo, mas consola os fãs por trazer um amadurecimento bem profundo e conveniente com as exigências que um público mais adulto anseia. De qualquer modo, quem aí não quer ver um testrálio?

**** (4,5/5)

Harry Potter and the Order of the Phoenix, Reino Unido/EUA, 2007
Direção: David Yates
Elenco: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson
Duração: 2h 18min

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