Review: O patriotismo exacerbado e as tentativas mal-sucedidas de camuflá-lo em “A Hora Mais Escura”

por Amanda Prates

Antes de dar a nota que dei a A Hora Mais Escura, me perguntei inúmeras vezes se estaria sendo injusta com a produção como um todo. Mas como sinceridade, seja vinda de uma leiga como essa que vos escreve, seja de um especialista em cinema, deve ser o elemento primordial em uma crítica – depois, é claro, de uma boa argumentação –, tomo a liberdade de dizer que não encontrei razões suficientes para que o longa-metragem de Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror) fosse indicado ao Oscar, principalmente à categoria de Melhor Filme. Devo confessar que foi muito difícil tomar coragem para começar a escrever essa review, e antes que eu cometesse qualquer leviandade ou me colocasse como imparcial, permiti uma segunda análise minuciosa do filme e uma terceira para me certificar com certeza do patriotismo exacerbado no roteiro, mas certo paradoxo no meio disso tudo, e o que o tornou enfadonho, fazendo pecar em muitos momentos.

A Hora Mais Escura soube bem como dividir a crítica ao narrar a caça ao maior terrorista de todos os tempos, Osama Bin Laden, comandada por Maya (Jessica Chastain), agente da CIA. O roteiro de Mark Boal sofreu críticas negativas pelas diversas cenas de tortura, principalmente por parte de alguns senadores de Washington D. C., que chegaram até enviar uma carta formal à Sony Pictures tratando o filme como impreciso e enganoso. Toda essa polêmica girou em torno do fato de os senadores não aceitarem a ideia que apresentava o filme, em mostrar que os Estados Unidos precisaram utilizar-se de técnicas de repreensão física para obter informações verídicas que lhes levassem ao esconderijo do saudita. A verdade é que Boal seguiu à risca toda a história, e a própria CIA afirmou ser verdadeira.


Não se pode negar que a diretora nos dá uma verdadeira aula de história moderna, que passeia sobre o maior atentado terrorista, em setembro de 2001, até a captura do saudita Osama Bin Laden, em maio de 2011. Mas, o que mais incomoda no filme são as mais de 2 horas e 30 minutos de duração. Sim, a diretora pensou que fosse preciso quase 3 horas de exposição para que o espectador entendesse e sentisse toda a história. O que foi um erro terrível e imperdoável. Há cenas desnecessárias, takes longos e diálogos que tornariam o filme melhor se estivessem ausentes. A primeira hora é extremamente cansativa e sem surpresas, e que se não fosse a necessidade em tentar entender os motivos pelos quais   este recebeu tanta atenção da crítica e da Academia, em especial, me faria ter desistido sem ao menos chegar até a metade da trama. 

Depois da quase infindável hora, o longa começa a se tornar mais um filme de ação como os outros, mas a única coisa que o diferencia das inúmeras produções de ação norte-americanas sobre o terrorismo e o então atentado ao World Trade Center, é o detalhe da captura do saudita mais procurado do mundo. O elenco também é de particularidades admiráveis. A atuação de Jessica Chastain rendeu muito, mas não surpreendeu, ela só fez o que ela já sabe fazer muito bem, ao encarnar uma Maya extremamente competente e sem vida pessoal, uma das poucas maestrias da diretora. Na coadjuvância, Jason Clarke, Joel Edgerton e Mark Strong representam personagens tão importantes quanto o de Chastain, com atuações que satisfazem, apesar de eles parecerem um tanto deslocados.

A dupla Bigelow-Boal até tenta disfarçar o patriotismo do filme, com algumas alfinetadas aqui, outras ali, como a repulsa de Maya por toda aquela caçada arquitetada em torturas,  ou com o momento em que Obama aparece ao fundo em uma entrevista na TV, alegando que o país não estava aplicando técnicas de tortura. Há ironia em tudo isso, mas são fatos que não minimizam o sentimento nacionalista demasiado presente no longa. Talvez tenha sido válida a tentativa dos produtores envolvidos em narrar uma caçada que parecia infindável, mas na linguagem mais informal, crua e mal educada até: o filme não me convenceu! 

**** (3,5/5)
(Zero Dark Thirty, EUA, 2012)
Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Mark Boal
Elenco: Jessica Chastain, Jason Clarke, Joel Edgerton
Duração: 2h  37min

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