Review: “O Impossível” prova que é possível contar uma história real sem se render à artificialidade

por Amanda Prates
OBS.: Esta review pode conter spoilers!

Difícil descrever a sensação que se tem ao assistir O Impossível. Dor, prazer e angústia se intercalam diante do que seus olhos veem e te fazem sentir na pele cada minuto transcorrido do filme de maneira tão pungente. O longa-metragem vai além de apenas contar sobre a tragédia ocorrida pelo tsunami que varreu o sudeste asiático em 2004, este nos remete à impressão de que só o cinema é capaz de narrar tudo isso de forma tão física. A metáfora usada no título é explorada brilhantemente para o que o diretor tenta apontar: o clichê de que nada é impossível, pelo contrário. Mas é esse clichê, atrelado ao efeito que causa no espectador pela beleza e sinceridade das personagens que o tornam digno de ser assistido.

Uma série de aspectos conspira a favor de O Impossível, o que não é de se surpreender. Juan Antonio Bayona (O Orfanato) faz com o espectador se conecte ao desastre não apenas com imagens, mas com sons – para que compreendamos a força do tsunami. A ideia de retratar a história de uma família de classe alta que, drástica e imprevisivelmente, é separada após um desastre hipnotizante enquanto estava de férias  e hospedada em um hotel na Tailândia, parece ultrapassar os limites das telas pelo brilhantismo como o diretor trabalha com emoções sem perder a sobriedade no tratamento delas. Bayona comanda muito bem a produção das cenas: a construção do tsunami é incrível, tanto do ponto de vista técnico como no trabalho com as câmeras, capturando espetacularmente a angústia e o sofrimento no momento do impacto. A partir daí, tudo flui naturalmente e as personagens se encarregam de fazer com que a dimensão do ocorrido exale para fora da tela.


Apesar de relatar as tentativas de sobrevivência de uma família abastada, as personagens nos ganham pela simplicidade com que são apresentadas, sujeitos que se veem em uma situação inevitável e imprevisível. Lucas (Tom Holland), o filho mais velho do casal Bennet, demonstra uma força de sua própria natureza, que o faz capaz de enfrentar as consequências de um tsunami. Ewan McGregor (Toda Forma de Amor, Moulin Rouge!) consegue dimensionar toda a fragilidade e esperança de seu personagem John e, mesmo que só ganhe destaque pouco tempo depois a partir da metade do filme, é dele uma das cenas mais enternecedoras: o momento em que ele faz a ligação para o sogro, anunciando o evento fatídico. Não se render às lágrimas aí é tarefa árdua. Mas é Naomi Watts (J. Edgar, Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos) quem talvez oxigene o filme com sua força de interpretação extraordinária, que faz com que todo o sofrimento de Maria seja mais do que real. Ela consegue atrelar a força do filme à sua personagem, com minúcias que vão além da face de sofrimento e dor, aspectos que lhe resultaram em uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Atriz.

Agora, imaginem se, no final disso tudo, toda família se encontrasse, no que parecia ser o acaso, no mesmo hospital?  É daí que toda a metáfora se desenrola e encerra a história com a mensagem de como o espírito humano, a esperança e o amor são capazes de coisas impossíveis. O maior triunfo deste foi ter conseguido contar uma história real, sem precisar ser um documentário. Uma história tão forte e envolvente, que poderia se tornar enfadonha e repetitiva, não fosse pela maestria alcançada tanto no quesito técnico como narrativo, com os quais o diretor faz com que o filme toque o espectador sem grandes esforços ou qualquer indício de artificialidade.

***** (5/5)
The Impossible/Lo Imposible, EUA/Espanha, 2012
Direção: Juan Antonio Bayona
Elenco: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland
Duração: 1h 54min 

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