Um ano com
poucas ou muitas leituras sempre rende algumas “daquelas leituras”. As que vão
te envolver mais facilmente, as que vão dizer muito sobre você, ou as que vão
tocar no âmago do seu “eu”. 2013 foi um ano pouco rentável pra nossa equipe,
mas nem por isso deixamos de elencar nossos 03 melhores livros lidos neste ano
e explicar porque o são, ou pelo menos tentar, porque, como dizem por aí, nunca
conseguiremos dizer tudo o que desejamos sobre uma obra que possui um lugar
especial no nosso coração. Confira:
Devo confessar
que os meios aos quais tenho me inserido nos últimos meses fizeram irromper em
mim a ânsia por leituras que há muito venho adiando. E ler
Cem Anos de Solidão foi uma dessas gratas influências, que me
arrastou para os cenários de Macondo para acompanhar, ao lado da matriarca dos
Buendía, a saga de uma estirpe condenada à solidão.
Apesar de suas
quase 500 páginas, a leitura flui facilmente e você se vê envolvido já nas
primeiras páginas. Cem Anos de Solidão
é o tipo de obra em que você vai sentir agonia quando Rebeca come terra
compulsivamente, dor por ver José Arcadio Buendía largado embaixo do
castanheiro, tristeza pela desolação de Aureliano quando perde sua frágil e
pueril esposa, e estima por Úrsula, que sustentou a família até os seus mais de
100 anos. García Márquez parece ter escolhido cada palavra com tanto cuidado,
porque cada uma tem sua importância na narrativa de realismo fantástico.
Gabo, através de
sua narração que ultrapassa os limites da criatividade, consegue fazer
reflexões politizadas acerca da sociedade do século XX, além de divertir,
emocionar e fazer sonhar.
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Genial. O
adjetivo que melhor caracteriza Neil Gaiman e sua mais recente obra, O Oceano
no Fim do Caminho. Essencialmente nostálgico, Gaiman narra um dia de volta às
memórias na vida de um homem que, ao retornar à casa em que viveu sua infância e
encontra, no fim do caminho, a fazenda das Hempstock – outro lugar que o marcou
em seus tenros anos –, se vê recordando o passado sentado num banco em frente
ao oceano de Lettie, e ali fica até o início da noite.
Um livro
curtíssimo – que causou frustração, afinal, queremos sempre mais Gaiman –, mas
que entregou tudo o que prometeu. O autor, brilhantemente, usou-se de referências do cotidiano
para inserir sua fantasia. O menino protagonista – sem nome, o que achei genial
– é o típico aventureiro, receoso e leitor, que questiona tudo o que sua
imaginação permite. Por exemplo, numa passagem menciona-se o fato de os adultos
só o serem por fora, pois ainda eram crianças por dentro, com seus medos e
ilusões.
Além do aspecto reflexivo
e crítico, Gaiman carrega sua obra de ação, que começa lentamente com cenas
mais leves até atingir o ponto máximo no embate entre o menino e Ursula
Monkton. Essa característica de narrativa vagarosa, sem pressa nenhuma, Gaiman
faz com maestria, para que seu leitor penetre nos personagens e sorva cada
detalhe até o ápice da estória.
O Oceano no Fim do Caminho é a prova de
que ainda é possível escrever fantasia sem cair no abismo dos clichês que depredam
obras do gênero, e que só vem reforçar – ou relembrar – as razões pelas quais Gaiman
é o maior nome da literatura fantástica da atualidade.
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Ler George
Orwell sempre foi uma urgência na minha vida de leitora, e
A Revolução dos Bichos foi um acertado primeiro contato. Apesar de
ser uma obra que destoe um pouco da narrativa do autor, em relação à linguagem, a
obra talvez seja a mais adequada para encarar Orwell pela primeira vez – minha experiência
com
1984 me permite afirmar isso. O
livro é um “conto de fadas rural” – como o próprio autor o definiu – que narra
a vida de luta pelo fim da resignação de um grupo de animais de uma fazenda.
Quando Major, um porco velho, sente que sua hora está por vir, compartilha
um sonho que teve na noite anterior, com a intenção de libertar os outros
animais da fazenda da submissão ao fazendeiro explorador, Sr. Jones. A partir
daí, inicia-se a revolução para a derrubada daquela hierarquia abusiva e instauração
de uma sociedade igualitária.
A Revolução dos Bichos é uma leitura
rápida e fácil, mas carregada de crítica, e disso todo mundo já sabe. Orwell
usa-se de uma fábula – com todas as representações de bichos construídas
genialmente – para narrar, de certa forma, as condições em que se encontrava a
União Soviética nas décadas de 1930-40, quando no comando de Stalin, não
democrático, totalitário e que pregava os ideais de um falso socialismo.
Uma obra que
consegue ser atemporal e de importância incalculável à sociedade, que sempre
vai nos lembrar que de vez em sempre encontraremos um porco por aí.
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Menções honrosas
Apesar de ter
sido um ano de poucas leituras, 2013 também foi um ano de ótimas leituras, por
isso, seria injusto e um martírio pra minha consciência leitora se eu não
citasse, ao menos, outros três livros que me marcaram de alguma forma.
- Os Sofrimentos de Jovem Werther, que há
muito ansiava pela leitura, e foi decisivo num momento delicado da minha vida –
sem citar o fato de ter sido uma volta à época em que me apaixonei pelo
Romantismo, quando no primeiro contato.
- As Vantagens de Ser Invisível, uma obra
delicada e que deve ser lida com os olhos da sensibilidade.
- Bubble Gum, o maior e mais prazeroso
soco no estômago que levei durante o ano. Lolita Pille ganhou-me já nas
primeiras páginas pra me dar um “acorda pra vida” mais à frente da narrativa.
Falar sobre as
principais leituras que me chamaram a atenção em 2013 é um pouco difícil, visto que li alguns livros interessantes. No entanto, escreverei algumas linhas sobre três livros que se destacaram.
O livro A Ordem
do Discurso, de Foucault, enfatiza o lugar dos discursos e dos sujeitos, uma vez
que nem tudo pode ser dito por qualquer pessoa ou em qualquer lugar, já que
existe uma hierarquia discursiva e certos tabus no que pode ser dito ou não
dito.
Com a leitura desse livro pude
perceber como os discursos constituem e como estes agem sobre os sujeitos, uma
vez que os discursos estão ligados ao desejo e ao poder. Sendo
assim, os indivíduos assumem diferentes identidades e
posicionamentos de sujeitos, construindo, desse modo, constantes movimentos,
transformando-se de acordo com o tempo e
o lugar desse sujeito nos quais estiver inserido. Dessa forma, os
discursos constituem os corpos e as instituições os sujeitos.
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A segunda obra
que escolhi foi As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis. Esse autor é simplesmente
incrível quando se trata do tema envolvendo fantasia. Porém, farei uma
delimitação no livro e falarei apenas sobre o discurso religioso presente em
todas as sete crônicas. Lewis traz o leão, Aslam, como a personificação de Jesus
Cristo. Com toda ideologia da criação do mundo em sua obra, muitas vezes alguns
personagens assumem papéis bíblicos.
Há temas relacionados às indiferenças, alegria,
à justiça e ao perdão e a questão da irreligiosidade de Susana. Por ter usado a
representação antropomórfica de Jesus Cristo, o autor foi avaliado como herege
por alguns cristãos e organizações cristãs. De certa forma, Lewis aplicou esse
discurso religioso no livro, tendo em vista que ele empregou a temática cristã
de passagens bíblicas em histórias ficcionais. Mas como
disse o próprio Lewis: "I wrote the
books I should have liked to read. That's
always been my reason for writing."
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As vantagens de
Ser Invisível, de Stephen Chbosky vai muito além de um conflito adolescentes,
já que o autor traz na temática não só primeiras relações amoras, mas também
dramas familiares e novos amigos, sonhos e caminhos.
Chbosky
retrata a importância da amizade e principalmente a fuga da vida cotidiana,
dando aos personagens a oportunidade de se sentirem infinitos e buscar novos
horizontes. Dessa forma, essa obra é a transição da adolescência para a vida
adulta, do ensino médio para a faculdade. É, portanto, a busca constante de se
encontrar e se firmar como sujeito numa contemporaneidade em pleno movimento.
Cá estou tentado
lembrar como conheci Jogos Vorazes. Tenho certeza de que enganei meus amigos
para irmos ao cinema, fingindo que a sessão de outro filme seria justamente na
mesma que de THG. Só não poderia imaginei que estaria não apenas vendo um filme
distópico cheio de efeitos especiais, mas também o que viria a ser uma das
minhas sagas favoritas.
Dado interesse,
comprei o livro e comecei a lê-lo (por indicação de, logicamente, Amanda – que
era só elogio para o romance de Suzanne Collins). A trama em si nunca me
causara tamanha afabilidade com Katniss Everdeen, mas bastou ler alguns
capítulos e pronto, já estava encantando com essa jovem durona e destemida.
O livro é uma
ótima leitura para quem deseja se aventurar por um mundo pós-guerra onde o
governo é o seu opressor. Pode-se dizer que Jogos Vorazes é uma das sagas mais
bem escritas para jovens publicadas até hoje, não por seu apelo que foca menos
em triângulos amorosos melosos ou o risco de apontar um massacre entre jovens,
mas sim pela forma como consegue reter críticas a Capital (nosso governo) e seu
controle contra a população. Seríamos nós meras peças nos planos de um perverso
e poderoso Presidente? Pode apostar que sim. Outro assunto a ser destacado é o
modo como Collins dialoga essa manipulação da mídia, fazendo uma assimilação
aos reality-shows (“Survivor” mandou lembranças) com esses apresentadores
sarcásticos e divertidos (é o dom de Caeser Flickerman em te fazer rir ou se
emocionar). Os diálogos são bem construídos (e não estão só ali para servir de
enfeite), assim como seus personagens, e apesar de ter uma narrativa um pouco
limitada por ser em 1ª pessoa (tudo acontece pelos olhos de Katniss), nos
prende de tal maneira que é impossível não ansiar pelos próximos
acontecimentos. Trata-se de um livro para introduzir mesmo a trama, deixando um
pouco de lado toda essa parte sócio-política – o pontapé inicial para atrair
adolescentes a saírem do modismo de vampiros e ter um olhar mais crítico, mesmo
que superficial.
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Depois de se
deleitar com o aperitivo que é
Jogos Vorazes, nada mais justo do que aproveitar
a refeição deliciosa que é
Em Chamas. A trama continua envolvente e agora temos
em maior âmbito a realidade cruel dos distritos e a superficialidade da
Capital. Katniss é o tordo e medidas devem ser tomadas.
Não há dúvidas
de que Em Chamas tem um teor político muito maior do que seu antecessor e por
isso pode muito bem deixar um pouco todas aquelas emoções dos jogos à parte,
tendo um início até que lento quando analisarmos pelo conjunto completo (mas
que se dá necessário para nos ambientarmos na situação). Foi uma bela jogada de
Collins em trazer os jogos novamente para o enredo, fazendo com que os jovens
leitores (injustamente o público-alvo) não se entediem. Contudo, é bom deixar
claro como o livro amadurece e traça novas reflexões para nós mesmos.
“Lembre-se quem é o verdadeiro inimigo”. Esse pode ser a ponta entre o começo e
o final, mas talvez seja o melhor (repleto de momentos incrivelmente aguardados
para serem transmitidos nas telonas). É válido ressaltar que a autora se
importa em fazer com que seus leitores compreendam sua mensagem, não deixando
demasiadas pontas soltas na trama (nós sabemos o que deve acontecer, só não
sabemos exatamente como). Quem diz que não gostou ou esperava mais, infelizmente
não entendeu a real proposta da saga.
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A autora
estreante Veronica Roth se tornou rapidamente a queridinha das listas de best-sellers dos Estados Unidos e não é para menos,
Divergente é uma criação
que merece reconhecimento. Ela não possui nenhum aprofundamento como
Jogos
Vorazes (mas calma, ainda estou no primeiro livro), entretanto já mostra novos
conceitos de interpretação e se torna plausível a partir do momento em que
percebemos como nossa população poderia realmente se dividir em facções.
Roth acerta em
cheio em trazer uma trama adolescente em que o foco é simplesmente a iniciação
da facção escolhida por Beatrice (ou Tris, para os íntimos). Não falta ação,
mistério e nem mesmo romance (para os necessitados). É tudo ainda uma
introdução, mas a leitura é tão envolvente que quando você vai perceber já leu
mais capítulos – que não são lá muito grandes – do que imaginava. Outro ponto
forte da escrita da autora são suas descrições, rápidas e objetivas. As emoções
e pensamentos também não se prolongam muito, o que, vide o público-alvo, é um
ótimo sinal. Os personagens também são construídos de forma com que nos
identifiquemos (embora algumas mortes lá e cá ao longo da trama não nos afetem
muito). É um livro despretensioso – à primeira vista – e que pode render bons
frutos se suas sequências corresponderem ao enredo forte e centrado na
personagem principal. Só espero que não caia naquele típico amor adolescente
cheio de drama ou num fraco plot de encerramento. E cá entre nós, todos somos
Divergentes!