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Com homenagem aos musicais, o Oscar 2013 premia os melhores do ano

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por Amanda Prates

Eis que ontem (dia 24) aconteceu a maior premiação do cinema (senão de todos os segmentos) e não faltaram motivos para se surpreender. Seth MacFarlane foi o anfitrião da noite e esbanjou a ousadia que faltou em Billy Crystal na edição passada, que se importou em apenas arrancar algumas risadas da plateia com piadas inocentes. O diretor de Ted (e de outras produções como Family Guy e American Dad!) protagonizou shows musicais peculiares, discursos inusitados e muita zombaria (sobrou até pra Abraham Lincoln, Rihanna e Chris Brown!). Houve quem dissesse que a escolha de MacFarlane foi o grande erro da Academia para a noite, mas o moço só quebrou com o conservadorismo da cerimônia de premiação, e com maestria.

Antes da cerimônia, o red carpet foi agraciado por looks de deixar qualquer um de boca aberta. E adivinhem quem foi o centro das atenções? Não precisa dizer, mas eu digo: JENNIFER LAWRENCE! A moça apareceu ~com um vestido da Dior~ já declarando “I’m starving! Is there food here?” Espontaneidade não faltou! Jessica Chastain também desfilou deslumbrante pelo tapete, mas não mais que a fofura da Quvenzhané Wallis, que roubou a atenção dos fotógrafos com sua bolsinha de cachorro ().

Naomi Watts, Anne Hathaway, Reese Witherspoon e Adele também se destacaram, mas essa que vos escreve não está aqui para dar uma de colunista de moda (não mesmo!), nem mesmo lhes encher de textinhos inúteis que nada dizem. 

Vestidos, penteados e maquiagens à parte, a noite foi de homenagem aos musicais. Sim, isso mesmo, a Academia prestou suas considerações ao gênero que tanta gente odeia! Chicago, ganhador do Oscar de Melhor Filme em 2003 e o único desta década, foi representado brilhantemente por Catherine Zeta-Jones com o número “All That Jazz”. A partir daí, outras performances construíram a homenagem, como “Suddenly”, pelo cast de Os Miseráveis, eAnd I Am Telling You I’m Not Going”, do filme Dreamgirls pela Jennifer Hudson.

Quem levou? 


Não seria surpresa para ninguém se Argo ou Lincoln faturasse os prêmios principais. Mas o que poucos (talvez ninguém) esperavam era que a premiação ficasse tão bem distribuída. Das 12 indicações que o filme de Steven Spielberg, 2 foram premiadas, o mesmo aconteceu com O Lado Bom da Vida, 1 das 8. As Aventuras de Pi foi o maior vencedor da noite! Ang Lee viu seu filme faturar 5 das 11 estatuetas que fora indicado: Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora Original e... Melhor Diretor

O filminho da Pixar, dirigido por Mark Andrews e Brenda Chapman, venceu a categoria Melhor Animação e surpreendeu, quando o favoritismo se dividia entre Frankenweenie e Detona Ralph. Haneke não surpreendeu absolutamente ninguém com o título de Melhor Filme Estrangeiro com seu Amour, merecedor, de fato, mas não se pode deixar de destacar as grandes produções que disputaram na categoria. Adele também levou a estatueta pra colocar juntinha aos seus vários gramofones dourados, por "Skyfall", como Melhor Canção Original, concorrendo ao lado de Suddenly”, do musical Os Miseráveis, e "Everybody Needs a Best Friend", da Norah Jonas por Ted.


Agora a gente analisa individualmente as principais categorias, confira: 

- Melhor Ator Coadjuvante -
Os indicados:
Tommy Lee Jones (por Lincoln)
Phillip Seymour Hoffman (por O Mestre)
Christoph Waltz (por Django Livre)
Robert de Niro (por O Lado Bom da Vida)
Alan Arkin (por Argo)

Sejamos sinceros e afirmemos que jamais passou pela nossa cabeça que Christoph Waltz fosse ganhar essa categoria. Apesar de ele ser o meu favorito, jamais pensei que a Academia pudesse “renegar” um prêmio que parecia já estar creditado a Tommy Lee Jones. Waltz repetiu sua incrível capacidade de magnetizar o espectador em suas representações com tanta maestria que foi capaz de atingir até o difícil grupo da Academia. Emocionado, o ator subiu ao palco, quando eu esperava um daqueles discursos enternecedores típicos de artistas dessa rama. Mas ele não o fez. Aliás, nenhum deles (salvo o agraciado com o prêmio de Melhor Ator). Finalmente, uma decisão mais que justa!

- Melhor Atriz Coadjuvante -
As indicadas:
Sally Field (por Lincoln)
Anne Hathaway (por Os Miseráveis)
Jacki Weaver (por O Lado Bom da Vida)
Helen Hunt (por As Sessões)
Amy Adams (por O Mestre)

Eu já sabia, você também, todos nós que os pouquíssimos minutos de atuação da Anne Hathaway em Os Miseráveis seriam mais que suficientes para que ela fosse indicada e levasse o prêmio da Academia. A moça, que já fora indicada, desbancou nomes como Jacki Weaver e Sally Field, por O Lado Bom da Vida e Lincoln, respectivamente.  Ela é ou não uma das maiores atrizes de sua geração? ()

- Melhor Diretor -
Os indicados
Ang Lee (As Aventuras de Pi)
Steven Spielberg (por Lincoln)
Michael Haneke (por Amour)
Ben Zeitlin (por Indomável Sonhadora)
David O. Russel (por O Lado Bom da Vida)

Dessa vez não teve para o Steven Spielberg! Ang Lee com seu incrível As Aventuras de Pi faturou um dos prêmios mais importantes da noite, e ainda garantiu outros quatro, citados anteriormente. Esse é o segundo Oscar do diretor, que subiu ao palco surpreso (e não era pra menos), mas não discursou nada tão impressionante. Mas valeu muito!

- Melhor Atriz -
As indicadas:
Jessica Chastain (por A Hora Mais Escura)
Jennifer Lawrence (por O Lado Bom da Vida)
Emmanuelle Riva (por Amor)
Quvenzhané Wallis (por Indomável Sonhadora)
Naomi Watts (por O Impossível)

Tá, a gente já sabia que as chances de a Jennifer não ter levado essa estatueta eram quase nulas. Waltz e Hathaway podem ter arrancado aplausos sinceros da plateia, mas as atenções da noite se voltaram para um único nome: Jennifer Lawrence. Enquanto os atores ocupavam suas mentes com a tão sonhada estatueta, a moça só pensava em... comida! E esbanjou espontaneidade até no momento de receber a estatueta mais cobiçada da noite, a de Melhor Atriz (e não, não vamos falar sobre o tombo da moça). Narizes que se torceram com a nomeação à parte, Lawrence só provou que nem Emmanuelle Riva, em sua melhor forma, era capaz de compor um personagem tão intenso, sincero, comum e controverso como a Tiffany (Silver Linings Playbook), e convencer a Academia. Ok, abstenhamo-nos de maiores elogios, somos muito suspeitos para isso. ((♥)

- Melhor Ator -
Os indicados:
Daniel Day Lewis (por Lincoln)
Denzel Washington (por O Voo)
Hugh Jackman (por Os Miseráveis)
Bradley Cooper (por O Lado Bom da Vida)
Joaquin Phoenix (por O Mestre)

Mais uma vitória que era muito óbvia, mas Daniel Day-Lewis pareceu não esperar pelo prêmio, fato que se reforçou pelas lágrimas do ator no palco ao receber das mãos de “uma apresentadora que não precisa ser apresentada”, Meryl Streep, a estatueta mais cobiçada. Day-Lewis (que agora é recordista de estatuetas nesta categoria) fez o ÚNICO discurso interessante da noite, ao brincar com Streep sobre seus papéis em Lincoln e A Dama de Ferro, respectivamente, e ainda agradeceu à esposa. Seria muita ironia se ele não levasse essa, né gente?

- Melhor Filme -
Os indicados:
Indomável Sonhadora
O Lado Bom da Vida
A Hora Mais Escura
Lincoln
Os Miseráveis
As Aventuras de Pi
Amor
Django Livre
Arg0

O prêmio não foi para Lee, mas Spielberg também não teve o prazer de segurar a estatueta principal. Não houve ousadia como no ano passado, mas Ben Affleck, que havia sido rejeitado da categoria Melhor Diretor, viu seu Argo vencendo a dura disputa com Lincoln, além de Melhor Montagem. Argo não tem a complexidade de Indomável Sonhadora nem a magia carregada de inúmeros significados de As Aventuras de Pi, só faltou a Academia reconhecer isso.

Confira aqui a lista completa dos vencedores. 
Da esquerda para a direita, Daniel Day-Lewis, Jennifer Lawrence, Anne Hathaway e Christoph Waltz, os vencedores principais da noite.

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Review: Tarantino faz de seu “Django Livre” um poço de exageros, mas passa longe de errar a mão

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por Amanda Prates
(Twitter / Filmow)

Quentin Tarantino quer vingança novamente, e ele o faz (!), mas desta vez, ambientada no Velho Oeste. E quando se trata de Tarantino, é claro que não estamos falando de um filme de faroeste convencional. Django Livre é uma denúncia à situação dos Estados Unidos dois anos antes à Guerra Civil – precedida pela abolição da escravatura – com tantos exageros (não nos fatos históricos, necessariamente) que chega a ser um deleite ficar numa sala de cinema por quase três horas para assisti-lo. Há sarcasmo, tiroteios, ~muito~ sangue, humor negro e palavrões, tudo misturado deliciosa e exageradamente em um faroeste ora cômico,  ora muito sério, e onde Tarantino passa bem longe de errar a mão.

É nesse clima de demasia que somos apresentados a Django (Jamie Foxx), um escravo liberto que segue o caçador recompensas alemão, Dr. Shultz (Christoph Waltz), pelo Texas e Mississipi atrás de sua esposa Broomhilda (Kerry Washington), escrava do fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). O filme prende a atenção de seu telespectador já no primeiro momento, quando Django é negociado inusitadamente pelo alemão meio-dentista para ajudá-lo a reconhecer dois irmãos que estão com as cabeças à venda. A partir daí, o ex escravo assume uma posição que, naquela época, era considerada exclusivamente para brancos e sai causando espanto pelos quatro cantos do sul ianque, um dos pontos mais denunciantes da trama.

Como é de conhecimento de todo bom admirador do cineasta, Tarantino costuma fazer de seus filmes pontos para referências a outras grandes produções, e em Django Livre a situação não poderia ser outra. Nele, o diretor “toma emprestado” elementos vindos do Western Spaghetti – termo usado aos westerns italianos – de Três Homens em Conflito e do original Django, ambos de 1966, e ainda do Blaxploitation, já usados por ele em Jackie Brown (1997) e Pulp Fiction (1994). Mais do que essas “homenagens”, o longa ainda é carregado, como é de praxe, de todos os componentes que consagraram a carreira do diretor, como os diálogos bem estruturados e longos, o humor negro, a violência estilizada que, de tão absurdas que são, chegam a ser burlescas e, é claro, toda a originalidade do roteiro.


A escalação do ótimo elenco foi mais um dos triunfos da produção. Mesmo com aquele possível burburinho de que atores como Sacha Baron Cohen, Kurt Russell, Kevin Costner e Joseph Gordon-Levitt teriam saído do cast (e de que o Will Smith havia recusado papel principal!), o filme não perde em nada, muito pelo contrário, Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson e... até o real Django Franco Nero (com a sua pontinha de participação) roubam a cena, tentando encontrar sem medo, ao lado do diretor, uma linguagem verbal e visual que possam transmitir ou recriar toda a complexidade de um mundo por trás do roteiro. Foxx compõe seu Django mais fisicamente, visto o desenho caricato que não exige dele tanto trabalho com a câmera, e faz seus pensamentos serem enviados com poucos gestos e olhares. Waltz repete sua incrível capacidade de magnetizar o espectador, percebida em Bastardos Inglórios. A sutileza em suas falas, seus movimentos, tudo parece conspirar para que sua atuação seja marcante e inesquecível até. 

Em um dos seus papéis mais “peculiares” – já que ele está quase irreconhecível –, Samuel L. Jackson domina o cenário. Encarnando Stephen, um negro odiado pelos negros e criado puxa-saco de Calvin Candie, o ator entrega uma atuação emblemática, reforçada pelos diálogos politicamente incorretos e divertidos, e tão intenso e odioso que quase nunca se o viu fazer o que fez debaixo de toda aquela pesada maquiagem. Porém, é Leonardo DiCaprio, com bem menos espaço que Foxx e Waltz, que atinge os agudos do longa com sua interpretação. Ele cria um personagem asqueroso e é capaz de representar com extrema clareza toda a ignorância e selvageria que caracterizaram os grandes proprietários de escravos deste recorte da história norte-americana. O moço não só consegue evocar uma gama de sentimentos ruins, como não nos faz duvidar que esse tipo de ser humano possa realmente existir, exatamente o que o diretor pretendia,  fato que prova sua genialidade na composição do cast.

Seria injusto eu terminar essa crítica sem deixar de destacar a trilha sonora, que como sua ilustre marca, Tarantino não poderia deixar de surpreender neste aspecto. Como grande admirador do maestro italiano Ennio Morricone, o diretor prestou mais algumas homenagens ao inserir composições como The Braying Mule, Sister Sara's Theme e Un Monumento, e outras originalmente produzidas para sua soundtrack,  Freedom (Elayna Boynton e Anthony Hamilton), 100 Black Coffins (Rick Ross) e Who Did That to You (John Legend). Essa mistura de soul music com rap até pode soar estranho em um longa deste gênero, mas Quentin soube bem como tornar essas diferenças tão naturais que é quase impossível não se envolver. No mais, Django Livre não tem a mesma força e originalidade de Bastardos Inglórios e Pulp Fiction e nem é um filme sem defeitos – peca no ritmo e na demasia de subtramas –, mas consegue ser, ao mesmo tempo, crítico, reflexivo, engraçado e perverso, além de provar que as ambições do diretor estão maiores e que ele ainda consegue, com maestria, superar as expectativas que constrói.

***** (4,5/5)
Django Unchained, EUA, 2012
Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Zoë Bell, Kerry Washington, James Remar
Duração: 2h 46min

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