Review: Dois olhares sobre "Segredos de Sangue"
por Léo Balducci
O que define o suspense? Uma
trilha sonora cheia de agudos, cenas de gritos, mortes aterrorizantes e uma
descoberta surpreendente? Se talvez Hollywood não tivesse estereotipado tantos
elementos para o gênero, a maioria dos amantes de levar sustos em frente à tela
poderiam se deixar levar pela base cultural e singela que caracteriza o uso do
suspense. Segredos de Sangue surge para mudar esse conceito padronizado e
refletir pensamentos, ilusões e atração numa arquetípica trama familiar – e
conturbada ao extremo.
A introdução é apresentada pela narração da jovem India Stocker (Mia Wasikowska), que por trás da contraposição do que aparentemente está falando, anda pelo campo de flores atingindo as pétalas das flores minuciosamente tingidas de um tom vermelho e branco. Logo temos em tela os créditos iniciais que abusam da arte de edição ao mostrar cenários e transições de nomes tão ilustrativos que chegam até a representar um ato cultural numa das melhores cenas editáveis. Na verdade, a maior parte da produção se preza em exibir momentos e símbolos que atribuem esse sentido mais alusivo, que parte desde realçar a personalidade da personagem principal como também de trabalhar os diálogos bem propostos do roteiro. Em relação à direção, trata-se da primeira obra do coreano Park Chan-wook em solo norte-americano, dando sensibilidade a seus modos de exprimir o sexo, violência e morte.
Se por um lado tudo parece muito apreciativo, por outro temos o decorrer do enredo que parte com o aniversário de 18 anos de India e a repentina morte de seu pai. No funeral, a garota se depara com um homem bem apessoado que é dito como o tio que jamais havia conhecido, limitando seus contatos já introvertidos com familiares. Quando sua viúva mãe Evelyn (Nicole Kidman) convida o então tio Charles (Matthew Goode) para passar um tempo nas comodidades de sua casa, India prevê as inusitadas situações que terá que lidar enquanto percebe as estranhezas e mistérios por trás do atraente tio. A partir daí, o filme se flagra e se desenrola de forma oriunda, calma e singela, analisando os fatos e provando que tanto a atuação quanto o roteiro tiveram uma busca incessante por conhecimentos nas mais precisas ilusões.
Segredos de Sangue desmitifica os típicos elementos do suspense e traz consigo a sedução, vista no simples ato de tocar piano num deslizar de dedos e cordas para atingir as notas, o imaginário elusivo, com a tênue aranha subindo pelas pernas, e a violência atrativa, utilizada pela simbologia do cinto. No fim, você apenas compreende que tudo e nada pertence a você, afinal a construção de sua própria personalidade parte de uma inspiração!
A introdução é apresentada pela narração da jovem India Stocker (Mia Wasikowska), que por trás da contraposição do que aparentemente está falando, anda pelo campo de flores atingindo as pétalas das flores minuciosamente tingidas de um tom vermelho e branco. Logo temos em tela os créditos iniciais que abusam da arte de edição ao mostrar cenários e transições de nomes tão ilustrativos que chegam até a representar um ato cultural numa das melhores cenas editáveis. Na verdade, a maior parte da produção se preza em exibir momentos e símbolos que atribuem esse sentido mais alusivo, que parte desde realçar a personalidade da personagem principal como também de trabalhar os diálogos bem propostos do roteiro. Em relação à direção, trata-se da primeira obra do coreano Park Chan-wook em solo norte-americano, dando sensibilidade a seus modos de exprimir o sexo, violência e morte.
Se por um lado tudo parece muito apreciativo, por outro temos o decorrer do enredo que parte com o aniversário de 18 anos de India e a repentina morte de seu pai. No funeral, a garota se depara com um homem bem apessoado que é dito como o tio que jamais havia conhecido, limitando seus contatos já introvertidos com familiares. Quando sua viúva mãe Evelyn (Nicole Kidman) convida o então tio Charles (Matthew Goode) para passar um tempo nas comodidades de sua casa, India prevê as inusitadas situações que terá que lidar enquanto percebe as estranhezas e mistérios por trás do atraente tio. A partir daí, o filme se flagra e se desenrola de forma oriunda, calma e singela, analisando os fatos e provando que tanto a atuação quanto o roteiro tiveram uma busca incessante por conhecimentos nas mais precisas ilusões.
Segredos de Sangue desmitifica os típicos elementos do suspense e traz consigo a sedução, vista no simples ato de tocar piano num deslizar de dedos e cordas para atingir as notas, o imaginário elusivo, com a tênue aranha subindo pelas pernas, e a violência atrativa, utilizada pela simbologia do cinto. No fim, você apenas compreende que tudo e nada pertence a você, afinal a construção de sua própria personalidade parte de uma inspiração!
Segredos de Sangue é um filme dirigido por Chan-wook Park, diretor que faz parte de um seleto grupo sul-coreano que vem brilhando e cujo talento seria impossível de traduzir em outras mãos. Após o estrondoso sucesso da trilogia vingança composta por Mr. Vingança, Oldboy e Lady Vingança, Park teve finalmente sua estreia no cinema norte americano.
A estória se passa quase que inteiramente numa dessas mansões gigantes e imaculadas em que vivem certas pessoas ricas que escondem segredos. É aí que a frágil e instável viúva Eve (Nicole Kidman) e sua filha India Stoker (Mia Wasikowska), uma adolescente introspectiva e solitária que acaba de perder seu pai (um aristocrata local e talvez seu único elo com o mundo real), moram e passam maior parte de seu tempo. Desamparada e desorientada, India chega aos dezoito anos abatida pela tragédia familiar, mas também não consegue entender sua própria natureza, o que acaba melhorando quando seu tio Charlie (Matthew Goode) aparece e resolve se instalar na imponente casa. Tratando-o a princípio com frieza, India apresenta uma estranha sintonia com o tio. Já Eve, que antes de enviuvar mantinha-se presa num casamento infeliz, vê em Charlie a juventude perdida em seu marido e nutre uma espécie de desejo carnal pela enigmática figura daquele homem sedutor e solista. Os dias vão passando e India começa a descobrir alguns detalhes sobre o passado de seu tio, e quanto mais sórdido ele se apresenta, mais ela parece ficar mais envolvida e vai aos poucos desenvolvendo uma intensa atração.
Num primeiro momento, India é uma menina aparentemente mimada, apática e até mesmo petulante. A partir do momento em que ela passa a receber certa influência, a princípio involuntária de seu tio, a moça começa a despertar sua libido, encontrando seu verdadeiro “eu” e marcando a sua transição para uma fase adulta. Esse rito de passagem só nos satisfaz de acordo com a bela atuação de Mia Wasikowska, a atriz não se nega a dramatizar temas com alto teor libidinoso após cenas que são chaves da trama. Nessa questão, o mundo que Park nos apresenta é composto por cores dessaturadas, é cinzento, gélido. Peles pálidas, movimentos de câmera lentos, olhares que falam mais que palavras, diálogos estilizados e as imagens formam uma atmosfera assustadora. Chan-wook se apropria com graça do roteiro de Wentworth Miller (que claramente foi influenciado por A Sombra de Uma Dúvida, de Alfred Hitchcock), e desde as primeiras cenas apresenta seu apuro técnico e estético marcado especialmente por reviravoltas na trama que são necessárias e asseguram o estranhamento e mistério. O filme tem pitadas de Allan Poe, onde marca a maldade como característica consanguínea, sendo que talvez o título original, Stoker, seja uma analogia ao Drácula de Bram Stoker. Para contar esta estória, Park precisou de atores que fizessem muito com pouco, por isso foi servido por um elenco impecável, onde apesar de cada um deles ser poderoso o suficiente para segurar uma cena sozinhos, as partes em que os três aparecem juntos são uma exposição de arte. Ainda amparado pelo diretor de fotografia Chung Chung-hood, o compositor Clint Mansell e a supervisão de Ridley Scott como produtor, Park Chan-wook faz um intrigante estudo da concepção da psicopatia.
Pode-se perceber que Segredo do Sangue não se assemelha em muito aos antigos trabalhos do diretor, é um filme que mira o intimismo, a violência de outrora assume outras possibilidades mais sutis, comedidas em termos de exposição, porém esta mesma vivacidade pode ser percebida diversas vezes na forma com que o filme nos conduz a pensar. Ao final India percebe que assim como a flor não escolhe sua cor, não somo responsáveis pelo que viemos a ser.