E o Feminismo? Vai bem, obrigado!
Correm nas bocas miúdas que
feminismo é coisa de mulher mal amada, solteironas que nunca tiveram um Homem
com H maiúsculo para chamar de seu: elas odeiam os homens, sussurram por aí,
querem ser iguais a eles, acreditava-se na década de 20 e ainda acreditam, em
meio a tantas inverdades, para não chamar de outra coisa, pois a ética não
permite, surge a questão: O que é o
feminismo? E quem ele representa? Cansada do que se tem proferido durante anos
sobre nós, decidi expor aqui algumas considerações. Não esperem do texto uma
enxurrada de teorias, escritas por pessoas de caráter dúbio, que acreditam que
somente teoria é necessário para resolver problemas, problemas esses que pulsam
de tão reais. O texto é apenas o desabafo, que desde já não intenta agradar
ninguém, e se esses “ninguéns” representarem os falsos moralistas que insistem
em proliferar uma ordem, ordem de rebanho, tenho dito, aí sim ficarei feliz em
saber que meu texto não os agradou.
Em primeiro lugar, não queremos
ser homens, é irreal imaginar que hoje em plena pós-modernidade, exaltada por
todos, onde acredita-se que estamos evoluindo, pessoas ditas evoluídas pensem
que queremos nos igualar aos homens, quando vamos as ruas e gritamos de forma
incansável e exaustiva: direitos iguais, queremos que sejamos colocadas no lugar que
nos foi tirado quando os homens ditos “bons” impuseram uma moral, que nada mais
era que seus interesses pessoais, e foi essa moral que nos colocou no lugar de
inferior, não pense que fomos nós mulheres que nos colocamos lá, ou alguém acha
que em um dado momento mulheres se reuniram e decidiram que elas eram inferior?
Um pouco difícil de acreditar. Simone Beauvoir escreveu em seu livro O Segundo Sexo: Fatos e Mitos que os
homens colocaram a mulher como inferior e que para tanto justificaram suas
atitudes em mitos como o de Pandora e a história de Eva.
Posto isso, pulamos para a parte
que somos mal amadas. Em parte, essa afirmação sobre as feministas surgiu por
muitos acreditarem que nós somos contra o casamento ou a mulher ter filhos. Não
somos contra, não queremos que sejamos referenciadas somente como mãe ou
esposa, a nossa condição biológica não pode determinar quem somos, se fôssemos
contra a mulher ter filhos estaríamos infringido a sua liberdade e esse não é o
âmago do movimento. Quanto ao fato da mulher ser esposa, essa era uma visão
errônea de algumas feministas, a luta é contra a submissão, já é tempo de
deixar de ser o ego do homem e sair da sua sombra, se o casamento lhe faz
feliz, que assim o seja.
A necessidade de feministas
defenderem suas convicções é fruto da má interpretação do movimento. Há anos
tomam-se as ruas para lutar por direitos que irão influenciar a vida daquelas
que, inclusive, não se intitulam feministas. Vivemos em uma cultura de atribuir
culpabilidade para com a mulher, seus trajes determinam se irão ser estupradas
ou não, é como se eu precisasse ter um guarda roupa somente com roupas que não
fossem “insinuantes” para evitar que eu seja estuprada. Na Índia, mulheres são
instruídas a andar armada como forma de se proteger dos estupros, uma máxima
antiga diz “o que os olhos não veem o coração não sente”, porque boa parte dos
estupros, das várias violências pela qual a mulher passa, seja ela física,
emocional, institucional, são afastadas de nós, em parte por uma mídia
tendenciosa e que se intitula “livre”, não nos preocupamos, não nos importamos.
Se os jornais anunciam um tal de estatuto nascituro, que alega-se ser para
proteger mulheres estupradas, não estamos interessadas; se a as igrejas pregam
a submissão das mulheres alegando que a saída dessas para o mercado do trabalho
causaram a desestruturação das famílias, quando foi a saída das mulheres para o
mercado de trabalho durante o apogeu do capitalismo que foi crucial para as
indústrias; aceitamos um Papa “pop”, dizer que não devemos usar
anticoncepcionais, afinal o que se quer é que a mulher se afunde em fraldas e
roupas para passar e fortaleça o rótulo de mulher dona de casa; isso tudo não
importa, não ligamos se nossa mídia não nos mostra esse lado das lutas
feministas, afinal o que todos querem é
que o dia acabe para irmos rumo às
nossas casas e, como dizia o cantor-filósofo Raul Seixas, “sentar em uma poltrona com a
boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar", assistir ao senhor
distinto nos desejar boa noite e ansiando que comece a novela para saber quem
matou quem ou quem vai ficar com quem.
Nessa última parte não focarei
exatamente nas feministas ou falarei diretamente sobre o feminismo, escreverei
para as mulheres, não irei usar discurso cheio de floreios, o foco é a
realidade. Não se deixem enganar, o que queremos não é influenciar ninguém com
nossos ideais, apenas queremos conscientizar, olhem ao redor e vejam como a
sociedade age conosco, percebam como a ordem somente favorece aos homens, qual
de vocês nunca ouviu “tais coisas não combinam com as mulheres”, ou então “essas
são atitudes que não condizem com mulheres”? Quem determinou tais leis? Como
surgiram? Em minhas observações diárias ouço mulheres dizendo “ele te persegue
porque te ama”, ou então “você apanhou porque o amor que ele sente por você é
intenso”, em que mundo abominável o amor é sinônimo de violência? Amar é cuidar,
é querer bem, e se esse bem não está ao seu lado, aí sim deve-se agir conduzido
pelo amor e deixar esta pessoa livre.
Colocadas todas as questões que
eram da minha intenção, espero que deixem de confundir sexismo com um movimento
rico e de tanta importância para que a causa da mulher não seja inaudita. De
resto, peço o que sempre peço e nunca cansarei de pedir, mesmo quando quiserem
que me cale: lutem, não interpretem luta como ir às ruas e queimar sutiãs, a
luta não é só armada, apesar de ela ser importante para as conquistas, lutem no
seu cotidiano, na sua realidade, sempre conteste, duvide, coloque à prova, não
aceite nada como verdade, nada é verdade se não vem de algo puro, se pergunte sempre,
para quê e para quem essa verdade?.