Sessão JenLaw: A tentativa frustrada de fazer de “Garden Party” uma peça denunciante

por Amanda Prates
(Twitter - Filmow)


Garden Party tinha tudo para ser um bom filme. Ou pelo menos quase tudo. Ao tentar fazer de seu roteiro uma peça denunciadora (ou algo próximo a isso) do quão sujo é o mundo, Jason Freeland despejou sobre este um balde de elementos mal selecionados que só conseguiram torna-lo um longa em que o lema “sexo, drogas e rock’n’roll” ainda serve de alicerce para a juventude pós-moderna. O diretor parece confuso com sua própria criação e escorrega em praticamente todos os 89 minutos, ao formular personagens artificiais e caricatos, escalar um elenco uniforme de tão estático que é, e deixar escoar pelas suas mãos uma ideia pouco antes explorada e que se faria tão triunfante se ostentada por sarcasmo e cutucadas irônicas.

A trama é um retrato de vários personagens com um único objetivo: tentar não ser mais uma peça da indústria suja que é Los Angeles para conseguir efetivar seus sonhos, mesmo que isso não venha a dar muito certo. Aos olhares não muito atentos, essa ideia pode até passar despercebida, já que o diretor parece nem entender seus personagens, mas é só um destes que deixa explícito o objetivo supracitado e é o primeiro caso a ser acompanhado no enredo: April (Willa Holland), uma adolescente que, com ambições humildes, procura uma maneira de se dar bem, sem precisar ter que tirar a roupa. Mas a situação resiste. A partir daí, a história começa a ser compartilhada por outros rostos, sem apresentações nem cerimônias e, surreal e assustadoramente, todos esses personagens cruzam o caminho um do outro direta ou indiretamente nesses entremeios (como se numa festa no jardim).


Ao invés de sermos apresentados a personagens tão diversos (como a trama sugere), o elenco contraria e faz dessas peças-chave elementos tão uniformes que temos a impressão de estarmos assistindo a uma história em que figuras protagonizam num mesmo núcleo calcado por uma mesma premissa. Vinessa Shaw exala confiança ao compor sua Sally St. Claire, mas o máximo que consegue é fazer dela uma mulher cheia de vulgaridades quando, na verdade, deveria ser forte e sarcástica, e tão mais superior que April.  Erik Smith torna Sammy tão bobo (sim, esse foi o único termo apropriado) que faz do sonho dele mais uma dessas ambições adolescentes de se tornar um astro pop, com todas as regalias a que se tem direito. Alexander Cendese pode não estar lá em uma de suas ótimas interpretações, mas é o que melhor transmite a essência de seu personagem, Nathan, um rapaz do interior que decide tornar palpável seus anseios, mas, entre uma incompreensão e outra, percebe onde deve estar. Quanto ao resto dos atores, a maioria deles absorve-se de performances que efetivam dimensões superficiais de seus personagens.

E antes de partir para as considerações finais, é preciso ressaltar que, se você, meu caro leitor, foi motivado a ver este filme apenas pela suposta participação de Jennifer Lawrence na coadjuvância, saiba que você foi flopado pelo IMDb. Na verdade, a moça faz mais o papel de figurante (ela é uma das amigas de April que aparece no momento em que a moça é aconselhada a tirar fotos pornô por um bom cachê) do que de personagem firme pelo menos num momento especial. Mas, como este é o primeiro trabalho cinematográfico da moça, caberia aqui mais do que obrigatoriamente a crítica deste longa.

No geral, é Jason Freeland o principal responsável pelas infinitas deficiências do filme. O diretor não explora o interior dos personagens nem expõe a visão sobre o mundo de cada um deles. Embora seja admirável a tentativa de documentação do "comércio" pornográfico de menores e a questão homossexual sem oferecer uma posição moral, é difícil saber se isso é uma razão de ele querer mostrar essas pessoas em estado de pragmatismo e desespero, ou simplesmente não soube o que pensar sobre o comportamento de seus personagens. Freeland pode até ainda alcançar os níveis artísticos de diretores que triunfaram nessa linha de histórias entrecruzadas, mas Garden Party se faz, no mínimo, de uma experiência frustrante que necessita de ajustes profundos e doses maiores de precisão, definição de personalidades e até ousadia no tratamento desses atores da vida real.

** (2/5)
Garden Party, Estados Unidos, 2008
Direção e roteiro: Jason Freeland
Elenco: Willa Holland, Vinessa Shaw, Erik Smith, Alexander Cendese
Duração: 1h 29min

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