Review: Os conceitos do preconceito mostram o reflexo na nossa sociedade em "Histórias Cruzadas"
por Léo Balducci
Poucas são às vezes em que paramos para pensar em como a sociedade pode ser tão hipócrita em pregar o dito “NÃO AO PRECONCEITO”, mas praticar diariamente formas de tentar humilhar e denegrir a imagem do seu próximo. Vemos isso com nossos colegas, amigos, parentes e até em nós mesmos. Ninguém está privado de apenas sofrer ou praticar qualquer modo de agressão moral contra uma pessoa, pois todos somos capazes de exalar tanto bondade quanto maldade. “Histórias Cruzadas” é um filme que nos faz refletir e muito sobre como estamos vendo nosso próprio mundo, e pior, o que estamos fazendo para ele perante todos àqueles que convivem conosco.
O longa-metragem traz como prioridade representar o racismo
na sociedade americana no século XX, tentando expressar como isso influenciou
no modo de vida dos negros. Baseado no Best-seller de Kathryn Stockett, a trama
gira em torno de negras domésticas que trabalham para famílias brancas em
detrimento de um salário miserável em Missisipi, considerado um dos estados
mais atrasos com relação aos direitos civis igualitários. Contrariando toda uma
sociedade racista, Skeeter (Emma Stone) vê a oportunidade se tornar uma grande jornalista ao escrever um livro
trazendo depoimento das domésticas de cor, que tinham que cuidar dos filhos de
seus patrões e ainda usar banheiros separados.
Apesar da possibilidade de grandeza e mudança de pensamento
de todo um estado, Skeeter se depara com inúmeras dificuldades ao longo desse
caminho tortuoso como a rejeição de algumas negras em contar suas histórias e a
desconfiança de seus colegas brancos. Não há como negar que a narração mais
emocionante, e também a central de todo o filme, é a de Abileen (Viola Davis),
que não hesita de relatar os sofrimentos e angústias de uma vida marcada por um
rumo sem sonhos ou objetivos. Quem merece destaque também é Minny (Octavia
Speencer) que consegue diminuir o tom de drama e colocar certos momentos de
risos em meio aos vários patrões para quem já trabalhou e as vivências que teve
(e que ainda terá).
“Histórias Cruzadas” traz uma atuação impecável de Emma Stone, que demonstrou não ser somente uma atriz jovem em aprendizado, mas também uma das grandes novas gerações que deverão deixar seu legado no cinema. Menções para Bryce Dallas Howard, que interpretou de forma espetacular o lado contra a integração racial (não há como assistir e não torcer para que ela se dê mal) e Jessica Chastain, que viveu uma personagem vinda do subúrbio e com várias inseguranças. Nenhuma surpresa que a produção tenha ficado 3 semanas consecutivas em 1º lugar nas bilheterias dos Estados Unidos, o que não acontecia há um bom tempo.
A essência de toda a jornada das negras é retrado de modo a
tentar prender o espectador e fixar seus olhos penetrantes numa identificação
com elas, que causa diversas cenas comoventes e, principalmente, de vergonha de
ser parte de um mundo tão vasto de preconceitos que se resume apenas a julgar
sem nem sequer questionar suas atitudes. Ao final, você sai com um pensamento
renovado e uma reflexão infinita de apesar de sermos de cores diferentes,
falarmos línguas diferentes, termos gostos diferentes, o sangue que pulsa no
nosso coração é vermelho, igual ao de todos – pois nesse caso não há distinções
que separem o branco do negro, o europeu do latino, o magro ou o gordo. Ao
final, o caminho para a real mudança parte de cada um de nós, não julgando os outros,
mas sim nós mesmos!
***** (5/5)
(The Help, EUA, 2011)
Direção: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer
Duração: 2h 26min