Preciosa: Uma história de esperança

por Aline Santos

Você já teve, eu já tive, todos tivemos na infância um apelido, os psicólogos, pedagogos e afins preferem chamar hoje em dia isso de bullying. Mas o filme em questão não é mais um desses relatos, que se intitulam o mais original e verídico, que afirmam relatar com assiduidade o mundo cruel dos adolescentes que sofrem de tal abuso. Poucos conseguiram chegar lá, atingiram seu ápice. Preciosa é um dos poucos para citar, sem maquiagem ou floreios, não dá voltas, de deixar qualquer um tonto, ele é direto como um soco no estômago. Nele Clareece vive uma adolescente negra, constantemente abusada pela figura da mãe e do seu pai, de quem tem dois filhos, além de ser humilhada em sua escola. Ela enxerga na sua imaginação uma forma de se livrar dos constantes problemas. Expulsa da escola pela sua segunda gravidez, ela passa a frequentar uma escola diferente, lá com ajuda da professora Rains, encontra respostas e refúgio para sua vida.
          

Alguns atores são pouco conhecidos pelo público, mas desempenham bem seu papel, a mãe da personagem interpretada pela atriz Mo'Nique, nos faz sentir o oposto do que se deveria sentir por uma mãe: ódio. A principiante Gabourey Sidibe no papel de Preciosa consegue passar sua angústia, sua voz é quase ausente, apenas suas expressões transmitem o que ela sente. Algumas estrelas do showbiz como Mariah Carey e Lenny Kravitz integram o elenco, talvez uma jogada de marketing para atrair a atenção para um filme ausente de estrelas de Hollywood, o que se pode dizer é que funcionou, o filme brilhou e conquistou seu lugar.

No filme, Clareece é o retrato do que a ditadura da beleza fez em nossas mentes: “temos que estar lindas” “preciso emagrecer” “quero estar igual ao meu ídolo favorito”, vozes de adolescentes desesperadas que ecoam em toda parte marchando tal qual um exército a favor da ditadura, sustentada por uma mídia que criou e disseminou uma segregação, é como um rígido processo seletivo, se você é bom está dentro se não está fora, mas para ser bom sigamos todos o que nos mandam, façamos nosso dever de casa, sejamos belas, imitaremos os artistas, e passaremos fome, aí sim respiraremos aliviados e veremos que finalmente estamos dentro deste seleto grupo, o grupo dos bons, os aceitos, e não ouse nunca contestar o sistema, aliás, cuidado:  tal crítica é contra indicada para aqueles que se venderam, ou acredita veemente neste processo moderno de seleção natural. Os que não se preocupam, corram para assistir, mas não esperem por um final feliz.

***** (4,5/5)
(Precious, Estados Unidos, 2009)
Direção: Lee Daniels
Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique e Paula Pattom
Duração: 1h 5omin

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