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Review: Dois olhares sobre "Argo", vencedor do Oscar 2013

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Ben Affleck e a trama mais que inusitada de seu Argo

por Amanda Prates

Depois de Gone Baby Gone e The Town, muitos acreditavam que Ben Affleck não conseguiria sair de sua zona de conforto e produzir algo que não fosse sobre criminalidade carregada de muita ação. Não esperavam mais ainda que ele pudesse dirigir e protagonizar um filme que fosse capaz de contar uma história real que envolve Estados Unidos e Oriente Médio sem elevar nenhuma das partes, nem emitir os fatos julgados reais, mesclando drama, ação e humor negro. Mas, ele o fez. E com maestria. Argo rendeu a Affleck a estatueta principal do ano e pôs em dúvida o tamanho reconhecimento diante das produções concorrentes (leia-se Indomável Sonhadora e As Aventuras de Pi). A questão é que, dos longas indicados, Argo era o que mais apresentava os elementos que a Academia tanto adora ver e o mais provável a vencer a dura disputa com Lincoln.

Aqui, a trama segue Tony Mendez (Ben Affleck), um agente da CIA especializado em exfiltração, que tem a ideia mais inusitada e dubitável das últimas décadas: retirar 6 membros do corpo diplomático norte-americano da mira de revolucionários do Irã no momento dos movimentos reacionários de 1979, escondidos na casa do cônsul do Canadá em Teerã, por meio de uma falsa produção cinematográfica de Sci-Fi, denominada “Argo”, com a ajuda do maquiador John Chambers (John Goodman) e do produtor Lester Siegel (Alan Arkin), que seria usada como pretensão para que o grupo passasse pela fiscalização iraniana como uma equipe de filmagens. O roteiro ousado de Chris Terrio é baseado em um artigo de Joshuah Bearman, que revelou, depois de anos de total sigilo, detalhes deste momento de tensão entre o Irã e os Estados Unidos.

Um dos grandes méritos de Affleck e companhia é fazer com que o filme não se foque na história do conflito, e sim em toda a tensão que envolveu o resgate do grupo de diplomatas, sem pecar para o lado da prolixidade nem da verborragia dos personagens.  O ufanismo está no roteiro, obviamente (afinal, como se conseguiria bancar um filme deste em Hollywood?), mas a produção soube dosar a trama e tratou logo de não colocar os EUA como o superior acima do bem e do mal. Há “sujeira” nos dois lados e ambos defendem um propósito, sem estabelecer um vilão e um “mocinho” na história, um ponto que muitos cineastas norte-americanos não conseguem triunfar ao contar uma história de cunho sócio-político como esta.

A direção de Ben Affleck se sente segura e faz questão de, ao longo de suas quase duas horas de duração, provar a veracidade do evento, lembrando que, por mais absurda que seja a história, ela de fato aconteceu. O diretor está a todo tempo nos mostrando manchetes de jornais da época e até fotos das seis pessoas resgatadas nos créditos finais. Mais do que a conservação da realidade, o elenco é um ponto louvável à parte. Alan Arkin, como o produtor cineasta Lester Siegel, nos entrega mais um show de representação e credita os momentos cômicos e irônicos que servem como alívio para toda a inquietação que move a trama. Para encarnar o maquiador John Chambers, outra pessoa não poderia ser mais indicada que John Goodman (e ousem duvidar!). O ator, além de ser parecido fisicamente com Chambers, dá ao seu personagem (que de fato existiu) toda irreverência e características de humor negro que dão pontos ao longa. Os atores que compõem os seis diplomatas são peças-chaves do triunfo do filme, mas não tão importantes como os supracitados.

Se para um filme que tinha todos os elementos que o fariam cair na artificialidade e gritaria por personagens caricatos, como a maioria dos que contam fatos reais, Ben Affleck fez em seu Argo o que poucos diretores (que estavam até então desacreditados pela crítica) são capazes de fazer e dá mais acertos do que erros à produção, ao combinar emoção, drama, política internacional e cutucadas sarcásticas à própria indústria cinematográfica (leia-se Hollywood), sem cair no clichê e no ufanismo exacerbado que moveu e ainda move tantos longas-metragem norte-americanos do gênero.

***** (4,5/5)


Ben Affleck traça toda a tensão de refugiados americanos no Irã em Argo

por Léo Balducci

Quem diria que Hollywood um dia conseguiria salvar vidas de verdade?! Pois bem, nada melhor para comprovar isso do que um filme retratando a história autêntica da tensão que ocorreu entre os Estados Unidos e o Irã no final da década de 1970, trazendo uma impecável direção de Ben Aflleck. Argo chega como uma produção patriarca de drama e suspense que procura mesclar uma ideia descartada dos estúdios de cinema com uma operação secreta internacional da CIA.

A trama narra a trajetória do agente especializado em exfiltração Tony Mendez (Ben Affleck) que resolve se inteirar na missão de resgatar 6 americanos refugiados na casa do Embaixador do Canadá após militantes iranianos atacar a soberania do país ao invadir a Embaixada dos Estados Unidos. Utilizando a “melhor ruim ideia” que tiveram, Mendez põe em prática a falsa gravação de um filme no Irã, fazendo uso do pretexto de que os refugiados seriam parte da produção buscando locações. Em meio a passaportes falsamente emitidos e todo o fingimento que o plano exige, nos vemos encurralados juntamente com os personagens em constante perigo e torcendo imensamente para que não haja complicações.

É visível que o longa-metragem também tem como objetivo empregar alguns elementos cômicos e críticos ao papel de Hollywood perante a relevância da operação, induzindo o telespectador a conhecer um pouco mais do que se passa nos bastidores. Além disso, temos que dar muitos méritos a Affleck, que não só comprovou que é um ótimo ator como também sabe dosar precisamente cenas de ação, tensão e emoção, criando âmbitos e sensações que vão além do mero decorrer da trama. No entanto, não há como negar que a fidelidade à pátria está fortemente inserida tanto do lado militar iraniano quanto na urgência americana, exemplificando que cada posição lutou em prol de seu benefício próprio. Outro ponto positivo é o roteiro, que não se rendeu a superficialidade e muito menos se prendeu a clichês, pois houve um ótimo controle do drama em relação aos conflitos gerados durante a história.

É inimaginável todo o pavor e medo que essas pessoas sentiram enquanto se viam sem esperança nenhuma de sobrevivência e a contínua sensação de insegurança numa época marcada pelo início de diferenças de pensamento e de governo – que persiste até os dias de hoje – e transmitir isso para a tela com uma essência e grandiosidade de sentimentos  parece se tornar impossível. Argo não se consagra por ser um filme de guerra, mas sim por atribuir pressões e dinamismo a cenas tão difíceis de causar impacto unânime aos que assistem aliado aos trabalhos altamente reconhecidos da direção e roteiro numa sintonia exacerbada da atuação. A estatueta do Oscar de “Melhor Filme” seria até mesmo pouco para corresponder a toda aflição, angústia e pânico que esses 6 americanos vivenciaram!

***** (5/5)
Argo, Estados Unidos, 2012
Direção: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston
Duração: 1h 59min


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Com homenagem aos musicais, o Oscar 2013 premia os melhores do ano

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por Amanda Prates

Eis que ontem (dia 24) aconteceu a maior premiação do cinema (senão de todos os segmentos) e não faltaram motivos para se surpreender. Seth MacFarlane foi o anfitrião da noite e esbanjou a ousadia que faltou em Billy Crystal na edição passada, que se importou em apenas arrancar algumas risadas da plateia com piadas inocentes. O diretor de Ted (e de outras produções como Family Guy e American Dad!) protagonizou shows musicais peculiares, discursos inusitados e muita zombaria (sobrou até pra Abraham Lincoln, Rihanna e Chris Brown!). Houve quem dissesse que a escolha de MacFarlane foi o grande erro da Academia para a noite, mas o moço só quebrou com o conservadorismo da cerimônia de premiação, e com maestria.

Antes da cerimônia, o red carpet foi agraciado por looks de deixar qualquer um de boca aberta. E adivinhem quem foi o centro das atenções? Não precisa dizer, mas eu digo: JENNIFER LAWRENCE! A moça apareceu ~com um vestido da Dior~ já declarando “I’m starving! Is there food here?” Espontaneidade não faltou! Jessica Chastain também desfilou deslumbrante pelo tapete, mas não mais que a fofura da Quvenzhané Wallis, que roubou a atenção dos fotógrafos com sua bolsinha de cachorro ().

Naomi Watts, Anne Hathaway, Reese Witherspoon e Adele também se destacaram, mas essa que vos escreve não está aqui para dar uma de colunista de moda (não mesmo!), nem mesmo lhes encher de textinhos inúteis que nada dizem. 

Vestidos, penteados e maquiagens à parte, a noite foi de homenagem aos musicais. Sim, isso mesmo, a Academia prestou suas considerações ao gênero que tanta gente odeia! Chicago, ganhador do Oscar de Melhor Filme em 2003 e o único desta década, foi representado brilhantemente por Catherine Zeta-Jones com o número “All That Jazz”. A partir daí, outras performances construíram a homenagem, como “Suddenly”, pelo cast de Os Miseráveis, eAnd I Am Telling You I’m Not Going”, do filme Dreamgirls pela Jennifer Hudson.

Quem levou? 


Não seria surpresa para ninguém se Argo ou Lincoln faturasse os prêmios principais. Mas o que poucos (talvez ninguém) esperavam era que a premiação ficasse tão bem distribuída. Das 12 indicações que o filme de Steven Spielberg, 2 foram premiadas, o mesmo aconteceu com O Lado Bom da Vida, 1 das 8. As Aventuras de Pi foi o maior vencedor da noite! Ang Lee viu seu filme faturar 5 das 11 estatuetas que fora indicado: Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora Original e... Melhor Diretor

O filminho da Pixar, dirigido por Mark Andrews e Brenda Chapman, venceu a categoria Melhor Animação e surpreendeu, quando o favoritismo se dividia entre Frankenweenie e Detona Ralph. Haneke não surpreendeu absolutamente ninguém com o título de Melhor Filme Estrangeiro com seu Amour, merecedor, de fato, mas não se pode deixar de destacar as grandes produções que disputaram na categoria. Adele também levou a estatueta pra colocar juntinha aos seus vários gramofones dourados, por "Skyfall", como Melhor Canção Original, concorrendo ao lado de Suddenly”, do musical Os Miseráveis, e "Everybody Needs a Best Friend", da Norah Jonas por Ted.


Agora a gente analisa individualmente as principais categorias, confira: 

- Melhor Ator Coadjuvante -
Os indicados:
Tommy Lee Jones (por Lincoln)
Phillip Seymour Hoffman (por O Mestre)
Christoph Waltz (por Django Livre)
Robert de Niro (por O Lado Bom da Vida)
Alan Arkin (por Argo)

Sejamos sinceros e afirmemos que jamais passou pela nossa cabeça que Christoph Waltz fosse ganhar essa categoria. Apesar de ele ser o meu favorito, jamais pensei que a Academia pudesse “renegar” um prêmio que parecia já estar creditado a Tommy Lee Jones. Waltz repetiu sua incrível capacidade de magnetizar o espectador em suas representações com tanta maestria que foi capaz de atingir até o difícil grupo da Academia. Emocionado, o ator subiu ao palco, quando eu esperava um daqueles discursos enternecedores típicos de artistas dessa rama. Mas ele não o fez. Aliás, nenhum deles (salvo o agraciado com o prêmio de Melhor Ator). Finalmente, uma decisão mais que justa!

- Melhor Atriz Coadjuvante -
As indicadas:
Sally Field (por Lincoln)
Anne Hathaway (por Os Miseráveis)
Jacki Weaver (por O Lado Bom da Vida)
Helen Hunt (por As Sessões)
Amy Adams (por O Mestre)

Eu já sabia, você também, todos nós que os pouquíssimos minutos de atuação da Anne Hathaway em Os Miseráveis seriam mais que suficientes para que ela fosse indicada e levasse o prêmio da Academia. A moça, que já fora indicada, desbancou nomes como Jacki Weaver e Sally Field, por O Lado Bom da Vida e Lincoln, respectivamente.  Ela é ou não uma das maiores atrizes de sua geração? ()

- Melhor Diretor -
Os indicados
Ang Lee (As Aventuras de Pi)
Steven Spielberg (por Lincoln)
Michael Haneke (por Amour)
Ben Zeitlin (por Indomável Sonhadora)
David O. Russel (por O Lado Bom da Vida)

Dessa vez não teve para o Steven Spielberg! Ang Lee com seu incrível As Aventuras de Pi faturou um dos prêmios mais importantes da noite, e ainda garantiu outros quatro, citados anteriormente. Esse é o segundo Oscar do diretor, que subiu ao palco surpreso (e não era pra menos), mas não discursou nada tão impressionante. Mas valeu muito!

- Melhor Atriz -
As indicadas:
Jessica Chastain (por A Hora Mais Escura)
Jennifer Lawrence (por O Lado Bom da Vida)
Emmanuelle Riva (por Amor)
Quvenzhané Wallis (por Indomável Sonhadora)
Naomi Watts (por O Impossível)

Tá, a gente já sabia que as chances de a Jennifer não ter levado essa estatueta eram quase nulas. Waltz e Hathaway podem ter arrancado aplausos sinceros da plateia, mas as atenções da noite se voltaram para um único nome: Jennifer Lawrence. Enquanto os atores ocupavam suas mentes com a tão sonhada estatueta, a moça só pensava em... comida! E esbanjou espontaneidade até no momento de receber a estatueta mais cobiçada da noite, a de Melhor Atriz (e não, não vamos falar sobre o tombo da moça). Narizes que se torceram com a nomeação à parte, Lawrence só provou que nem Emmanuelle Riva, em sua melhor forma, era capaz de compor um personagem tão intenso, sincero, comum e controverso como a Tiffany (Silver Linings Playbook), e convencer a Academia. Ok, abstenhamo-nos de maiores elogios, somos muito suspeitos para isso. ((♥)

- Melhor Ator -
Os indicados:
Daniel Day Lewis (por Lincoln)
Denzel Washington (por O Voo)
Hugh Jackman (por Os Miseráveis)
Bradley Cooper (por O Lado Bom da Vida)
Joaquin Phoenix (por O Mestre)

Mais uma vitória que era muito óbvia, mas Daniel Day-Lewis pareceu não esperar pelo prêmio, fato que se reforçou pelas lágrimas do ator no palco ao receber das mãos de “uma apresentadora que não precisa ser apresentada”, Meryl Streep, a estatueta mais cobiçada. Day-Lewis (que agora é recordista de estatuetas nesta categoria) fez o ÚNICO discurso interessante da noite, ao brincar com Streep sobre seus papéis em Lincoln e A Dama de Ferro, respectivamente, e ainda agradeceu à esposa. Seria muita ironia se ele não levasse essa, né gente?

- Melhor Filme -
Os indicados:
Indomável Sonhadora
O Lado Bom da Vida
A Hora Mais Escura
Lincoln
Os Miseráveis
As Aventuras de Pi
Amor
Django Livre
Arg0

O prêmio não foi para Lee, mas Spielberg também não teve o prazer de segurar a estatueta principal. Não houve ousadia como no ano passado, mas Ben Affleck, que havia sido rejeitado da categoria Melhor Diretor, viu seu Argo vencendo a dura disputa com Lincoln, além de Melhor Montagem. Argo não tem a complexidade de Indomável Sonhadora nem a magia carregada de inúmeros significados de As Aventuras de Pi, só faltou a Academia reconhecer isso.

Confira aqui a lista completa dos vencedores. 
Da esquerda para a direita, Daniel Day-Lewis, Jennifer Lawrence, Anne Hathaway e Christoph Waltz, os vencedores principais da noite.

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