Foi assim quando Gaga explodiu com os hits do álbum The Fame, até hoje considerado por muitos como seu melhor repertório. A ascensão cresceu muito rapidamente e, nesses casos, é comum ser amargurado pela vítima do segundo disco. Isso não aconteceu com o Born This Way, trazendo uma legião de admiradores e um conceito todo poético e repleto de referências sobre quem devemos ser (resposta: nós mesmos). Apesar de o disco ter se dado bem em vendagens, faltou àquela motivação e espontaneidade de antes, não caindo tão bem no gosto popular. Agora com o ARTPOP, ela não quer fazer promessas, apenas espalhar sua musica – o que para nós já é o suficiente. Voltando a usar cabeças de Bob Esponja, fazendo os clipes mais loucos e exibindo seu talento incontestável, temos um álbum repleto de arte no POP ou vice-versa.
A tentativa de trazer arte para as músicas cai bem com Aura, faixa que abre o repertório. Alguém mais se sentiu em filme de terror com essa introdução apavorante? Ela recita os versos de forma tão descontraída em meio ao dubstep pesado, que é impossível não cair de amores. Temos a presença de Zedd nas batidas contagiantes e a melodia mais Djada possível da dupla israelense Infected Mushroom. É aquela oportunidade de oltar na pista dançando ao seu “modo estranho de ser”.
E o que falar de Venus? Já podemos mudar de planeta? A música, na verdade, já começa no estilo dançante e nos parece conduzir para sermos abduzidos por Gaga invocando a deusa do Amor, Vênus. Mitologia, astronomia, é muito amor para uma música só. Deixando as inimigas no chão, a faixa é de composição e produção unicamente da cantora, que parece ter aprendido bastante batendo cabelo nos estúdios. O tom que ela impõe em sua voz é viciante e somos fisgados por sua vibe futurística!
Como se já não estivesse tudo muito bom, G.U.Y. faz a reserva em nossas cabeças! Quando somos introduzidos ao refrão, a repetição das letras gruda como chiclete em nossos pensamentos e se torna impossível não se render ao eletrônico que ela traz – Zedd acerta mais uma vez. Os versos só intensificam como Gaga faz a relação entre a igualdade de sexos e constrói essa intertextualidade com as siglas (GUY = Girls Under You) e ainda dá aquela deixa (uma piscadinha, diga-se de passagem) para aproveitarmos a noite na cama.
Preparando o terreno para cair de vez no sensual, temos a ótima e pervertida Sexxx Dreams. É nada mais que aquela música que você faz quando está em seu momento íntimo com você mesmo. Cheia de pensamentos sexuais e batidinhas fortificantes, não é aquela que você gosta já na primeira ouvida, mas se acostuma (como tudo na vida). O que seria de um ARTPOP se não houvesse as confissões safadinhas de Gaga? Sentimos o cheiro de couro desde Venus!
Com Jewels N’ Drugs, a cantora sai um pouco de sua zona de conforto, mas nada de surpreender muito. O refrão da música traz uma melodia de arrepiar com vocais bem interpretados, porém tudo soa muito artificial diante de tantos palavrões e versos meramente ilustrativa. É uma faixa suja e os rappers que nela cantam (Nicki Minaj #xatiada por não ter sido convidada) só contribuem para deixá-la sem essa dinâmica tão boa que estávamos ouvindo. É a música Lost, que não devia estar ali!
Por favor, alguém promove MANiCURE logo para single! É tudo que a gente pede para Gaganás nos cultos de POP (afinal todo mundo tem pacto hoje em dia!). É a chiclete que amamos cantar o dia inteiro no ônibus, fazendo faxina, trabalhando, estudando e até dormindo. A introdução e pós-refrão com toques de guitarra são perfeitas, fazendo uma relação com o duplo sentido do título (É manicure para o feminismo ou uma cura para um homem? Os dois!).
Chegou o momento R&B que A-D-O-R-A-M-O-S! Do Want U Want, a princípio, parece ter aquela carga sexy e de liberdade, contudo também passa como um desabafo para cantora sobre o assédio da mídia. Então, basta fazer o que quiser com nossos corpos! O arranjo bem oitentista se mistura com as batidas constantes e nós sentimos aquela imensa vontade de dançar. O estilo sambista que a faixa carrega só melhora quando Gaga se junta aos vocais de R. Kelly, que canta aqui como pressuposto do caso da cantora. Conhecendo ela pelo bom e velho eletrônico, é uma boa forma de continuar induzindo essa sua ideia de inovação. Vamos nos entregar nessa noite deliciosa?
A melodia crescente de Artpop, música que dá título ao álbum, nos faz viajar em sua vibe muito gostosa e sem pretensões aparentes. Você pode festejar a arte que você tem e acredita! Pode até não ser a melhor do repertório, porém é inegável que traz o significado mais puro e sedutor do POP. O estilo que tanto amamos é descrito e exemplificado nos versos de maneira tão eficiente que somos transportados para esse pensamento de que arte não é somente o que você vê, ouve e sente, mas também o que te inspira!
O eletrônico vem com tudo em Swine! Enquanto tantos implicam com as farofas que ouvimos diariamente, aqui temos uma melodia crua do dance que nos instiga a querer mais. O poder de destruição da faixa é tanta que se bem desenvolvida nos charts da vida, não só acaba com carreiras, mas enterra muitas divas por aí! Gente, é HINO para dançar loucamente nas baladas.
Donatella é como aquela sua prima chique da capital que vem te visitar no interior. Gaga faz uma ilustre homenagem a sua amiga e uma das estilistas mais poderosas, Donatella Versace. É aquela que você quer ostentar para os ricos, fashions e recalcados. A base eletrônica ainda é bem presente na faixa e embora tenha um refrão bem complicado de se compreender (é para os fortes), dá para curtir legal, sem exagerar no brega e expandir seu amor pela moda!
Como toda boa artista com várias facetas, a moda também faz parte de Lady Gaga. Entendemos isso muito bem na faixa anterior, porém ela cisma em repetir isso em Fashion!. Com um dubstep até bem controlado, é uma grata surpresa não ser uma farofa mirabolante vindo to time de produtores que tem (David do Gueto, Will.Sou.Eu e Giorgio Tuinfort). Não é nenhuma revolução nas passarelas, mas já tem corpinho ideal para desfilar!
Por que não reforçar o pacto? Deixando mais abordagem para as polêmicas, Gaga canta sobre maconha e sua visita frequente ao papis para continuar desfrutando das coisas boas da vida, em Mary Jane Holland. Descrito como outra parte de seu alter-ego, a faixa não empolga e muito menos salva. Se o refrão é uma chatice que só, no pós-refrão caímos no sono (nada que Lana Del Rey precise se preocupar!). Digamos que está em um nível bem abaixo das outras!
A maravilhosa Dope é apoiada no piano e mostra uma Gaga fragilizada, cheia de arrependimentos e declarações de amor. A baladinha tem seu valor e ouvir essa voz praticamente nua da cantora não tem preço! É tão sentimental que conseguimos nos envolver em seus versos tão bem compostos. Sem nenhum toque de batidas cansativas ou dubstep, é a Gaga crua que tanto sentimos falta com o passar dos anos.
Vamos fazer petição para Gipsy virar single já? A faixa lembra bastante a grandiosa The Edge Of Glory e não tem como ouvir e simplesmente deixar pra lá. Produzida por RedOne, é a mais fácil para cair de amores e correr pela casa correndo. A emoção meio Shakira feat. Liberdade Waka Waka é ótima de se sentir e suplicamos para um clipe decente AGORA!
Concluindo, ARTPOP é como aquela criança sapeca que nos divertem tanto. E respondendo a pergunta do título dessa review, aqui não temos o álbum do milênio, mas temos um pedacinho de toda Lady Gaga que queremos e simplesmente por isso já valerá a pena mergulhar nessas letras, melodias e ritmos. As 16 faixas não tentam trazer uma obra-prima cultural, apenas entreter e passar sua mensagem: ARTE, viva pela ARTE!

Artista: Lady Gaga
Álbum: ARTPOP
Lançamento: 11 de Novembro de 2013
Selo: Interscope / Universal
Produção: Gaga, Vincent Herber, Zedd
Duração: 47min
Gênero: POP
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