É inegável a
força que Lady Gaga exerce atualmente em seus fãs e na música pop, de maneira
geral, tornando-se um verdadeiro ícone da nossa geração. Ela é para os jovens
de hoje como Madonna foi para muitos na década de 80-90. A referência à Rainha
do Pop (cá entre nós, uma rainha nunca perde sua coroa,
leia
aqui) não pode ser considerada como um insulto tendo em vista que ambas
marcaram/marcam suas épocas. A questão de não expressar afeição por uma ou
outra não significa que um amante de música pop está sendo poser, mas não tem
como deixar de reconhecer que ambas deixam um legado a cada passo que dão em
suas carreiras.
Foi assim quando Gaga explodiu com os hits do álbum
The Fame, até hoje
considerado por muitos como seu melhor repertório. A ascensão cresceu muito
rapidamente e, nesses casos, é comum ser amargurado pela vítima do segundo
disco. Isso não aconteceu com o
Born This Way, trazendo uma legião de
admiradores e um conceito todo poético e repleto de referências sobre quem devemos
ser (resposta: nós mesmos). Apesar de o disco ter se dado bem em vendagens,
faltou àquela motivação e espontaneidade de antes, não caindo tão bem no gosto
popular. Agora com o
ARTPOP, ela não quer fazer promessas, apenas espalhar
sua musica – o que para nós já é o suficiente. Voltando a usar cabeças de Bob
Esponja, fazendo os clipes mais loucos e exibindo seu talento incontestável,
temos um álbum repleto de arte no POP ou vice-versa.
A tentativa de trazer arte para as músicas cai bem com
Aura, faixa que abre o
repertório. Alguém mais se sentiu em filme de terror com essa introdução
apavorante? Ela recita os versos de forma tão descontraída em meio ao dubstep
pesado, que é impossível não cair de amores. Temos a presença de Zedd nas
batidas contagiantes e a melodia mais Djada possível da dupla israelense
Infected Mushroom. É aquela oportunidade de oltar na pista dançando ao seu
“modo estranho de ser”.
E o que falar de Venus? Já podemos mudar de planeta? A música, na verdade, já
começa no estilo dançante e nos parece conduzir para sermos abduzidos por Gaga
invocando a deusa do Amor, Vênus. Mitologia, astronomia, é muito amor para uma
música só. Deixando as inimigas no chão,
a faixa é de composição e produção unicamente da cantora, que parece ter aprendido
bastante batendo cabelo nos estúdios. O tom que ela impõe em sua voz é viciante
e somos fisgados por sua vibe futurística!
Como se já não estivesse tudo muito bom,
G.U.Y. faz a reserva em nossas
cabeças! Quando somos introduzidos ao refrão, a repetição das letras gruda como
chiclete em nossos pensamentos e se torna impossível não se render ao
eletrônico que ela traz – Zedd acerta mais uma vez. Os versos só intensificam
como Gaga faz a relação entre a igualdade de sexos e constrói essa intertextualidade
com as siglas (GUY = Girls Under You) e ainda dá aquela deixa (uma piscadinha,
diga-se de passagem) para aproveitarmos a noite na cama.
Preparando o terreno para cair de vez no sensual, temos a ótima e pervertida
Sexxx Dreams. É nada mais que aquela música que você faz quando está em seu
momento íntimo com você mesmo. Cheia de pensamentos sexuais e batidinhas
fortificantes, não é aquela que você gosta já na primeira ouvida, mas se
acostuma (como tudo na vida). O que seria de um
ARTPOP se não houvesse as
confissões safadinhas de Gaga? Sentimos o cheiro de couro desde
Venus!
Com
Jewels N’ Drugs, a cantora sai um pouco de sua zona de conforto, mas nada
de surpreender muito. O refrão da música traz uma melodia de arrepiar com
vocais bem interpretados, porém tudo soa muito artificial diante de tantos
palavrões e versos meramente ilustrativa. É uma faixa suja e os rappers que
nela cantam (Nicki Minaj #xatiada por não ter sido convidada) só contribuem
para deixá-la sem essa dinâmica tão boa que estávamos ouvindo. É a música
Lost, que não devia estar ali!
Por favor, alguém promove
MANiCURE logo para single! É tudo que a gente pede
para Gaganás nos cultos de POP (afinal todo mundo tem pacto hoje em dia!). É a
chiclete que amamos cantar o dia inteiro no ônibus, fazendo faxina,
trabalhando, estudando e até dormindo. A introdução e pós-refrão com toques de
guitarra são perfeitas, fazendo uma relação com o duplo sentido do título (É
manicure para o feminismo ou uma cura para um homem? Os dois!).
Chegou o momento R&B que A-D-O-R-A-M-O-S!
Do Want U Want, a princípio,
parece ter aquela carga sexy e de liberdade, contudo também passa como um
desabafo para cantora sobre o assédio da mídia. Então, basta fazer o que quiser
com nossos corpos! O arranjo bem oitentista se mistura com as batidas
constantes e nós sentimos aquela imensa vontade de dançar. O estilo sambista
que a faixa carrega só melhora quando Gaga se junta aos vocais de R. Kelly, que
canta aqui como pressuposto do caso da cantora. Conhecendo ela pelo bom e velho
eletrônico, é uma boa forma de continuar induzindo essa sua ideia de inovação.
Vamos nos entregar nessa noite deliciosa?
A melodia crescente de
Artpop, música
que dá título ao álbum, nos faz viajar em sua vibe muito gostosa e sem pretensões
aparentes. Você pode festejar a arte que você tem e acredita! Pode até não ser
a melhor do repertório, porém é inegável que traz o significado mais puro e
sedutor do POP. O estilo que tanto amamos é descrito e exemplificado nos versos
de maneira tão eficiente que somos transportados para esse pensamento de que
arte não é somente o que você vê, ouve e sente, mas também o que te inspira!
O eletrônico vem com tudo em
Swine! Enquanto tantos implicam com as farofas
que ouvimos diariamente, aqui temos uma melodia crua do dance que nos instiga a
querer mais. O poder de destruição da faixa é tanta que se bem desenvolvida nos
charts da vida, não só acaba com carreiras, mas enterra muitas divas por aí!
Gente, é HINO para dançar loucamente nas baladas.
Donatella é como aquela sua prima chique da capital que vem te visitar no
interior. Gaga faz uma ilustre homenagem a sua amiga e uma das estilistas mais
poderosas, Donatella Versace. É aquela que você quer ostentar para os ricos,
fashions e recalcados. A base eletrônica ainda é bem presente na faixa e embora
tenha um refrão bem complicado de se compreender (é para os fortes), dá para
curtir legal, sem exagerar no brega e expandir seu amor pela moda!
Como toda boa artista com várias facetas, a moda também faz parte de Lady Gaga.
Entendemos isso muito bem na faixa anterior, porém ela cisma em repetir isso em
Fashion!. Com um dubstep até bem controlado, é uma grata surpresa não ser uma
farofa mirabolante vindo to time de produtores que tem (David do Gueto, Will.Sou.Eu
e Giorgio Tuinfort). Não é nenhuma revolução nas passarelas, mas já tem
corpinho ideal para desfilar!
Por que não reforçar o pacto? Deixando mais abordagem para as polêmicas, Gaga
canta sobre maconha e sua visita frequente ao papis para continuar desfrutando
das coisas boas da vida, em
Mary Jane Holland. Descrito como outra parte de
seu alter-ego, a faixa não empolga e
muito menos salva. Se o refrão é uma chatice que só, no pós-refrão caímos no
sono (nada que Lana Del Rey precise se preocupar!). Digamos que está em um
nível bem abaixo das outras!
A maravilhosa
Dope é apoiada no piano e mostra uma Gaga fragilizada, cheia de
arrependimentos e declarações de amor. A baladinha tem seu valor e ouvir essa
voz praticamente nua da cantora não tem preço! É tão sentimental que
conseguimos nos envolver em seus versos tão bem compostos. Sem nenhum toque de
batidas cansativas ou dubstep, é a Gaga crua que tanto sentimos falta com o
passar dos anos.
Vamos fazer petição para
Gipsy virar single já? A faixa lembra bastante a
grandiosa
The Edge Of Glory e não tem como ouvir e simplesmente deixar pra
lá. Produzida por RedOne, é a mais fácil para cair de amores e correr pela casa
correndo. A emoção meio Shakira feat. Liberdade
Waka Waka é ótima de se
sentir e suplicamos para um clipe decente AGORA!
Para finalizar da melhor forma possível, só dando esses
Applause na cara! O
carro-chefe do
ARTPOP é divertido e descompromissado, não entregando todo o
conceito do álbum e contribuindo para essas frases tão “inteprete-como-quiser”
de Lady Gaga. Para que ficar pensando em problemas? Viva o momento e seja um
artista, almejando aplausos e mais aplausos. A parte artística que a faixa
busca representar tem muito mais fundamento diante do repertório, que mais do
que aplausos, tem como objetivo, encantar, inspirar e motivar!
Concluindo,
ARTPOP é como aquela criança sapeca que nos divertem tanto. E
respondendo a pergunta do título dessa review, aqui não temos o álbum do
milênio, mas temos um pedacinho de toda Lady Gaga que queremos e simplesmente
por isso já valerá a pena mergulhar nessas letras, melodias e ritmos. As 16
faixas não tentam trazer uma obra-prima cultural, apenas entreter e passar sua
mensagem: ARTE, viva pela ARTE!