Review: O que faz de "Orgulho e Preconceito" um clássico?
por Cremilton Souza
Em 28 de janeiro de 1813 foi publicado pela primeira vez o romance Orgulho e Preconceito da escritora
inglesa Jane Austen, esta deu à literatura inglesa o primeiro impulso para a
modernidade, 200 anos após a sua publicação, com cerca de 20 milhões de
exemplares vendidos, nos leva a perguntar, por que Pride and Prejudice, permanece tão atual? Como ele sobrevive a eras
tão diferentes? Será devido ao número de adaptações para o cinema, televisão e
teatro? Ou ainda pode-se perguntar: será por que a autora tratava do cotidiano
de pessoas comuns? O teórico Ítalo Calvino nos sugere alguma resposta. Segundo
ele, clássico é aquele livro que nunca deixou de dizer aquilo que tinha pra
dizer, isto é, os clássicos são um encontro com a história, são
situações que parece nunca termos vistos, mas que ao mesmo tempo temos a
sensação que já tínhamos isto dentro de nós, essa
sensação, depende da interpretação e da visão de mundo e da época que cada
leitor vive, sendo assim, toda vez que lemos um clássico chegamos a uma nova
conclusão.
Nessa obra Austen retrata o
cotidiano de pessoas comuns como: casamento, riqueza, posições sociais e
costumes vigentes do período em que esta foi escrita. Dessa maneira ela critica
com certa dose de ironia o escasso poder de decisão concedido à mulher na
sociedade da época, ela defendia a tese de que as mulheres tinham muito mais a
oferecer, do que, apenas aprender a bordar, tocar piano, cantar e cuidar da
casa, por outro lado criticava também, a busca desenfreada pelo casamento, a
autora não era contra o casamento, mas, pensava que essa busca poderia ser
efetuada com controle psicológico. Desta forma, Jane Austen destaca ainda uma
aguda percepção psicológica, com um estilo único e uma ironia sutil, com certo
tom de humor pela leveza da narrativa. A seguir trecho do diálogo do primeiro pedido de casamento feito por Mr.
Darcy a Miss. Elizabeth Bennet:
“Tenho lutado em vão. Não resistirei. Meus
sentimentos não serão reprimidos. Você deve permitir que eu lhe diga o quão
ardentemente a admiro e amo”. [...] “A surpresa
de Elizabeth estendeu-se além das palavras. Ela o olhou fixamente, corou,
duvidou e ficou em silêncio. Ele considerou isso encorajamento suficiente; e a
garantia de tudo o que ele sentia, e há muito tempo, por ela, seguiu-se
imediatamente. Ele falava bem; mas havia sentimentos além daqueles do coração,
a ser detalhados; e ele não foi mais eloquente no assunto da ternura do que no
orgulho. Seu conhecimento de que ela era inferior, que era uma degradação dos
obstáculos familiares que sempre opuseram à sua inclinação, foram temas nos
quais ele se demorou com uma emoção que parecia a devida consequência de que
ele estava ferido, mas que muito provavelmente não faria seu discurso ser bem
recebido”.
O título do livro a princípio era primeiras impressões, contudo, depois
de várias análises e revisões a escritora decidiu alterá-lo para orgulho e
preconceito, isso nos leva a interpretar que os protagonistas da história um
seria orgulhoso e o outro preconceituoso, no entanto, ambos personagens tem as
duas características, tanto a do preconceito, quanto a do orgulho. Como todo
romance, sempre há uma história de amor, em orgulho e preconceito não poderia
ser diferente, Jane Austen retrata em sua obra que só o amor era capaz de
romper com essas barreiras.
Diante disso, Jane Austen apresenta a verdadeira essência de sua obra,
na qual só o amor verdadeiro entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, era capaz de
superar barreiras de orgulho e preconceito, a diferença social entre eles e o escasso
poder de decisão concedido à mulher no início do século XIX. Por fim, não me
resta mais nada a não ser recomendar, a leitura da obra literária e assistam também a
sua adaptação para o cinema de 2005, do diretor Joe Wright, com Keira Knightley,
Matthew MacFadyen, como protagonistas.
***** (5/5)
Orgulho e Preconceito
Título original: Pride and Prejudice
Autora: Jane Austen
Editora: Landmark
Ano: 1813
Páginas: 229