Review: Magia, sedução, amores, loucura e desejos à flor da pele em Perfume


por Aline Alves

O filme Perfume: A história de um Assassino é uma adaptação do livro do escritor alemão Patrick Süskind, publicado em 1985. Hoje a obra é considerada um dos maiores sucessos literários de todos os tempos, ao ter vendido mais de 20 milhões de exemplares em mais de 40 países. A obra foi levada aos cinemas pelo diretor também alemão Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra) em 2006.

No século XVIII, na França, Jean-Baptiste Grenouille nasceu com um talento: um olfato apuradíssimo. Este dom o fez afastar-se da humanidade, mas ao mesmo tempo o ajudou a sobreviver a sua solitária existência. Essa habilidade o leva a seu primeiro crime após conhecer uma bela moça (Karoline Herfurth). Grenouille se encanta por seu cheiro e a mata acidentalmente à medida que seu cheiro começa a esvair com sua vida. Em momento algum ele se preocupa com o fato de ter matado a bela jovem ou com o fato dela ter morrido, a única preocupação que lhe vem à mente é não poder sentir mais aquele odor. Naquele momento, Jean Baptiste se dá conta de que o “significado e propósito de sua miserável existência tinha um destino mais elevado”, daquele dia em diante ele iria aprender como conservar as fragrâncias para que nunca mais pudesse perdê-la de novo.

Jean-Baptiste então segue em sua jornada, quando conhece o perfumista Mestre Baldini (Dustin Hoffman), e após mostrar seu talento é aceito e começa a trabalhar em seu ateliê. No entanto, o jovem e impetuoso aprendiz tinha uma ambição: preservar as fragrâncias dos mais variados elementos das naturezas. Ele queria extrair o perfume das mulheres e é mandado por Baldini a uma cidade chamada Grass. Movido por sua grande ambição, parte em busca de obter o conhecimento para tornar o seu sonho possível, criar um perfume perfeito. Mas tudo isso ia além. Essa busca, na verdade, era para si próprio. Durante sua viagem a Grass ele tem um insight psicológico: descobriu que ele não tinha cheiro, assim sendo, não tinha uma identidade, então segue determinado a ser alguém pertencente ao mundo já que sua inserção era dada através dos odores.

Grenouille consegue enfim capturar toda a essência da pureza, beleza sensualidade e inocência de suas vítimas, criando o perfume perfeito, unindo as notas perfeitas. Terá como resultado um pouco de todas estas características, tornando esta essência capaz de manipular as pessoas, Jean-Baptiste percebeu todo o poder que tinha em suas mãos e quando estava para ser condenado por seus crimes, fez uso do perfume, ludibriando todos que estavam ao seu redor fazendo com que o vissem como inocente e uma pessoa tão boa, sendo comparado a um anjo. O perfume quando espalhado em meio à multidão dava às pessoas a característica dele próprio, despertando uma paixão avassaladora fazendo com que eles, por um momento, esquecessem-se de seus problemas e acreditassem que estavam no “paraíso”. O jovem sabia do incrível poder que tinha em suas mãos, sabia que poderia controlar o mundo se quisesse, mas também sabia que aquele perfume nunca o faria uma pessoa capaz de amar e ser amado como todas as outras. Acaba voltando para o lugar onde nasceu e derrama sobre si o perfume e é devorado por aqueles que sempre o rejeitaram.


O filme é mais que a história de um simples assassino em série, não é uma história convencional, os motivos que o levam a cometer tais crimes tem caráter insólito e despertam no público compaixão. Grenouille, interpretado por  Ben Whishaw um jovem ator desconhecido, durante sua atuação que contém poucas falas, mas que é rica em olhares, gestos e expressões, consegue passar de um ser desprezível, insignificante e repulsivo a um ser inocente, fascinante e misterioso constituindo um anti-herói fascinante apesar dos atos cometidos com frieza pelo personagem.

O mais interessante é que o diretor consegue passar de forma excepcional as sensações vividas por Grenouille, tanto as boas quanto as ruins. Perfume: A história de um Assassino é um desses filmes emocionantes e inquietantes que te deixam extasiados, após assistir o filme por três vezes em uma semana, me ocorreu uma série de questionamentos: até que ponto somos capazes de ir para que um sonho se concretize? Como reagimos diante dos obstáculos? E quando enfim conseguimos? Será aquilo mesmo que queríamos? Como é ver tudo que você planejou durante toda sua existência se tornar nada? Quantas vezes nos deparamos com situações do tipo em nossa vida?

Apesar de ser um filme longo, em momento algum o filme se tornou enfadonho, e não se perde o interesse pela trama, vamos aos poucos descobrindo a identidade do personagem principal que tem várias camadas, ao tempo que a construímos a desconstruímos, nunca se sabe ao certo o que esperar daquele anti-herói maquiavélico, certamente pensou “os fins justificam os meios” tudo em busca da realização de sonho. Penso eu que isso nada mais é que uma crônica do homem moderno, alguém que quer se inserir de alguma forma na sociedade, e tem seus objetivos frustrados. Termino minhas considerações falando da cena em que Grenouille derrama o perfume sobre a população de Grass, cena no mínimo inebriante, chocante e emocionante, ver todos se esquecerem das convenções sociais, da moralidade é lindo e emocionante e nos deixa ‘bêbados’, confundindo o real e o imaginário.


**** (4/5)
(Perfume: The Story of a Murderer/Das Parfum,   França/Espanha/Alemanha, 2006)
Direção: Tom Tykwer
Elenco: Ben Whishaw,  Karoline Herfurth  e Dustin Hoffman
Duração: 2h 27min

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